O GLOBO - 14/08
A Petrobras registrou um lucro de R$ 6,2 bilhões no segundo trimestre, o que é boa notícia, considerando-se que, no mesmo período de 2012, a empresa apresentou um elevado prejuízo. Aquele resultado negativo acabou servindo como sinal de alerta para a série de problemas que a estatal acumulara ao longo de vários anos, entre os quais uma gestão mais voltada para os interesses políticos do governo do que para a eficiência de seus negócios e atividades. Embora já incorpore efeitos das mudanças de rumos, o lucro da Petrobras ainda está bem aquém da sua potencialidade e mostra que a companhia permanece refém de equívocos da política econômica.
Com o congelamento de preços, para conter a inflação de forma artificial, o governo estimulou a ampliação da frota de veículos, o que provocou um aumento considerável no consumo de gasolina (6%, bem acima do PIB). Com as refinarias à plena carga, o salto no consumo precisou ser atendido por importações. Mas, como a inflação próxima do teto da meta oficial, o governo estendeu o represamento dos chamados preços administrados. E, assim, transferiu para a Petrobras o pesado ônus da importação, pois os combustíveis são adquiridos no exterior a preços maiores que os autorizados para o mercado brasileiro.
Não se trata de uma situação temporária, pois somente no fim do ano que vem entrará em operação uma das duas refinarias que a Petrobras vem construindo para aumentar a capacidade de destilar petróleo brasileiro. Tal perda na importação não chega a ser compensada por exportações de petróleo bruto, já que a oferta de óleo cru também diminuiu, por força da estagnação da produção da companhia.
Para elevar essa produção a Petrobras teria de acelerar investimentos, o que somente pode ser feito com uma situação financeira que mantenha equilíbrio entre os recursos que ela própria gera em seus negócios e financiamentos de terceiros. A geração de caixa tem sofrido o efeito da contenção dos preços da gasolina e do diesel, o que faz a empresa depender mais de financiamentos. É uma equação que vem preocupando o mercado e se espelha nas cotações depreciadas das ações da Petrobras. Em uma situação de normalidade de preços, talvez a Petrobras não precisasse a recorrer a ajustes contábeis — com os efeitos no demonstrativo do segundo trimestre — que a permitem distribuir por diferentes balanços o impacto da flutuação do real frente ao dólar. Um exemplo de “contabilidade criativa”.
A estatal paga outro tipo de preço, por também ter sido capturada por interesses políticos obscuros da base do governo. Prova disso é a denúncia, divulgada pela revista “Época”, feita pelo engenheiro João Augusto Rezende Henrique, ex-funcionário da empresa, de que um esquema de corrupção instalado na diretoria internacional da Petrobras repassou dinheiro sujo ao PMDB. Não surpreende, pelo estilo da administração que no passado assumiu a empresa.
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