Dentro de poucos dias começarão a ser divulgados os editais de leilões de concessões e parcerias público-privadas relacionadas à infraestrutura, retomando um processo que não deveria ter sido interrompido pelos governos Lula e Dilma. Já aproximando-se do derradeiro ano de mandato, a administração Dilma não chega a fazer um mea-culpa, mas reconhece que a atração de empreendedores para o setor de infraestrutura é possivelmente a principal alavanca que o país pode contar para que a economia volte a ganhar fôlego.
A infraestrutura precária ou insuficiente é um dos fatores que mais oneram os custos de produção no Brasil. Se o país hoje cresce pouco, uma das razões está nas deficiências de infraestrutura. No passado, o setor público assumiu a responsabilidade por praticamente todos esses segmentos por envolver investimentos de longa maturação, para os quais talvez não houvesse empreendedores privados capazes de assumir esse risco.
Mas esse quadro mudou. O mercado de capitais se sofisticou no mundo e propiciou o surgimento de fundos fechados ou abertos que servem de lastro para compromissos que avançam por décadas. É o caso, por exemplo, de fundos de aposentadoria e pensões. Assim, o mercado foi criando mecanismos que multiplicaram o interesse e o número de empreendedores em projetos de infraestrutura. Em face dos desequilíbrios macroeconômicos do país, que encurtavam o horizonte de potenciais horizontes, o Brasil entrou nesse processo como retardatário. Mas, ainda assim, as experiências bem-sucedidas já somam um número razoável, suprindo a redução de capacidade financeira do setor público. Poderia ter sido mais, se o preconceito contra os empreendedores não tivesse alimentado um debate político bizantino em torno da privatização. Como o PT demonizou esse tema, o governo Lula resistiu o quanto pôde a recorrer a concessões de serviços públicos, e quando o fez tentou caracterizá-las de maneira diferente, sem qualquer vinculação com a experiência acumulada.
Pouco importa essa discussão semântica, desde que a questão principal seja atacada: a necessidade de incrementar e acelerar investimentos na área de infraestrutura. Devido às incertezas nos rumos da economia mundial (e aos equívocos cometidos no Brasil), os mercados que podem financiar esses investimentos se retraíram. Para que os próximos leilões tenham êxito, o governo deve abandonar a postura de soberba, de querer ditar todas as regras (como o de estabelecer a taxa de retorno dos investimentos), e ouvir as ponderações dos que conhecem os mercados. O Brasil já perdeu muito tempo retardando esses investimentos. A trajetória da economia brasileira teria sido mais positiva se tais inversões já estivessem em curso. Se os leilões deslancharem conforme o previsto, é possível que a trajetória se modifique já a partir do ano que vem.
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