FOLHA DE SP - 26//08
RIO DE JANEIRO - A presidente Dilma surpreendeu ao revelar que, outro dia, escapou do Planalto sem ser notada e saiu de moto por Brasília. Ótimo. Significa que não somos apenas nós que já não toleramos as carantonhas dos que a cercam no comando do país. O fato de a presidente não ter carteira de habilitação, não saber dirigir motos e de ser impossível que ela saia sozinha não tem a menor importância.
Importante é saber que nenhum presidente se contenta com passar o dia assinando documentos sem ler, gritando com ministros ou dando tapas na mesa. Foi citado o caso do presidente João Baptista Figueiredo (1979-1985), que também saía de moto pelas madrugadas de Brasília --talvez para se ver longe, por algumas horas, dos colegas que queriam impedi-lo de devolver o país. Na verdade, a agenda dos presidentes devia prever um horário livre, para que eles pudessem escapar e fazer o que quisessem.
No passado, isso era possível. Dizem que Getúlio Vargas, em seu período constitucional (1951-1954), saía à noite do Catete e caminhava pela Praia do Flamengo até a rua Paissandu, e voltava. Numa dessas, teria cruzado com Graciliano Ramos, seu ex-preso político, e os dois se cumprimentado. Se aconteceu, foi um belo momento da democracia brasileira.
Juscelino Kubitschek (1956-1961) também escapava, mas para visitar sua namorada Maria Lucia Pedroso. Jânio Quadros (1961) só não escapava porque não achava a saída do Alvorada, e ficava zanzando às tontas pelo palácio. Já João Goulart (1961-1964) vinha ao Rio de surpresa e fechava a boate Michel, em Copacabana, para ele e seus amigos. E até Castello Branco (1964-1967) ousava aparecer de repente num teatro. Enfim, presidentes e escapadas são quase sinônimos.
Sem falar nos que, nos últimos 28 anos, escaparam da Lei da Ficha Limpa --porque ela ainda não existia.
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