quarta-feira, agosto 07, 2013

Rendimento zero - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 07/08

Poupador corre em massa para cadernetas, que, porém, perderam da inflação nos últimos 12 meses


OS BRASILEIROS colocaram muito dinheiro nas cadernetas de poupança em junho. Foram R$ 9,4 bilhões nesse mês, R$ 62,5 bilhões no primeiro semestre, 14% mais que o total dos depósitos em junho de 2012.

Considerados os rendimentos, o saldo total das cadernetas cresceu 20%, ante uma inflação de 6,7% no período e um crescimento de uns 8% na massa de salários nas regiões metropolitanas.

Porém, nesses 12 meses contados até junho, o dinheiro que ficou na caderneta encolheu, em termos reais. Isto é, descontada a inflação do período, rendeu nada ou menos do que nada. Por que, então, tanto dinheiro foi para as cadernetas?

A pergunta na prática não faz lá muito sentido, pois muita gente que coloca dinheiro na poupança não faz as contas. Alguns poupadores se assustam de tal maneira com os (por vezes imaginários) riscos ou as complexidades de outras aplicações que nem pensam em alternativas.

No entanto, caso tivesse feito contas, a maioria dos poupadores teria descoberto que suas opções eram escassas ou complexas, mesmo. Quase todos os fundos de investimento "populares" ou acessíveis ao poupador que não seja rico perderam da poupança, quando não foram goleados pela inflação. Trata-se aqui de fundos chamados de renda fixa, curto prazo e referenciados.

Muita gente deve ter ficado de resto assustada com o horrendo desempenho recente da previdência privada (mesmo sem levar em conta as extorsivas taxas dessas aplicações).

Em muitas situações, pois, a poupança era o prejuízo menor (desconsiderados investimentos de maior risco ou mais complexos).

Logo, o poupador desamparado pela educação ou pela assessoria em finanças talvez tenha tomado uma decisão racional ao optar pela poupança. Mesmo assim, trata-se de um desastre. Como formar patrimônio, preparar-se para dias ruins ou para a aposentadoria se o mercado "pop" de aplicações financeiras não oferece nem proteção contra a inflação?

Sim, os juros reais no país caíram a menos de 2%; fica mais difícil achar rentabilidade. Mas, num país mais normal, de crescimento econômico menos tumultuado, com um governo que devesse menos, numa economia com menos ineficiências e outras deformações do mercado, haveria opções mais interessantes de investimento "real". Mas nosso mercado ainda é pouco diversificado (para a "massa").

O rendimento dos fundos comuns deve melhorar um tico, agora que os juros estão aumentando, mas não vai ser grande coisa.

Para quem pode deixar o dinheiro parado por pelo menos uns dois anos, tem paciência para abrir conta em corretora (que cobre taxa zero) e para aprender um mínimo básico de finanças, o melhor investimento ainda é emprestar dinheiro diretamente para o governo (comprar papéis do Tesouro Direto).

Mesmo que não se invista do Tesouro Direto, é bom se informar dos juros oferecidos por papéis do Tesouro que oferecem juros mais correção pela inflação (chamados de NTN-B). Sabendo das taxas do Tesouro, pesquisam-se as alternativas de risco semelhante nos bancos: o que eles podem oferecer que renda mais ou menos isso (considerados taxas e impostos, prestar atenção)?

É um modo de não ser levado na conversa pelos bancos.

Nenhum comentário: