O GLOBO - 07/08
Os registros históricos são precários, mas presume-se que, na época de Moisés, a expectativa média de vida não era maior que vinte anos. Por isso, teria vagado quarenta anos pelo deserto, para que, após duas gerações, conseguisse mudar a mentalidade de seu povo antes de chegar à chamada Terra Prometida. Passaram-se milhares de anos para que a expectativa média de vida da humanidade dobrasse, atingindo os 40 anos. Esta é também a média estimada para a o Brasil no início do século XX. Ao fim da primeira metade do século passado, conjugada a uma alta taxa de expansão demográfica, a expectativa de vida dos brasileiros chegou a 50 anos, na média, e todos as políticas públicas, incluindo as regras para a previdência social, foram focadas nesses parâmetros.
Na segunda metade do século XX, houve uma transformação demográfica expressiva no país. Acompanhando o que ocorreu com a maioria da Humanidade, também a expectativa média de vida dos brasileiros aumentou, fenômeno associado a uma forte redução nas taxas de fecundidade das mulheres.
Vários fatores explicam essa maior longevidade, destacando-se a queda dos índices de mortalidade infantil, o que, por sua vez, decorreu da inserção das mulheres no mercado de trabalho, da urbanização, da escolarização dos pais e das crianças, das campanhas de vacinação, do uso de medicamentos, do acompanhamento pré-natal, etc.
Concretamente, de 1980 a 2010, segundo a Tábua de Mortalidade para o Brasil, divulgada há poucos dias pelo IBGE, a expectativa média de vida dos brasileiros avançou 11 anos, alcançando 73,8 anos, patamar semelhante ao de um país europeu como a Bulgária.
Em termos relativos, o avanço foi mais significativo aconteceu em regiões menos desenvolvidas do país (Norte, Nordeste). Ainda assim, estados dessas regiões continuam a ser os que apresentam as taxas mais elevadas de mortalidade infantil e de diferença de expectativa de vida entre homens e mulheres, por força dos índices de morte violenta de adolescentes e jovens adultos.
A reflexão sobre esses números é que o Brasil precisa, desde já, repensar suas políticas públicas. As regras do sistema previdenciário, que estimulam a aposentadoria precoce, ficaram desfasadas. Tais regras deveriam estimular tanto empregados como empregadores a postergarem aposentadorias, estendendo prazos de contribuição (com redução proporcional a partir de certa idade) e encurtando os de recebimento de benefícios.
Transporte público e vias urbanas deveriam ser adaptados a esse envelhecimento da população, pois muitos idosos passam a ter mais dificuldades de locomoção. Políticas de saúde precisam ficar mais atentas à prevenção de doenças e ao estímulo de uma vida mais saudável. O país já está atrasado neste trabalho.
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