O GLOBO - 10/07
Começamos a ingressar, com a dose combinada de inércia e descrença, em um clima de final de Copa. Onde estamos, aonde vamos? Quem ganhou? É o delírio finalista formatando a compreensão da história.
A visão que nos deve orientar é certamente outra. Aquela que reconhece o simulacro da nossa democracia e inicia o trânsito do aglomerado de consumidores para a sociedade de cidadãos. A mesma que denuncia a corrupção, ampla, geral e irrestrita, as licitações ilícitas, os salários malandramente multiplicados pelas verbas de representação, e tantas outras mazelas que se escondiam por detrás de uma transparência opaca. Conseguimos retirar das pautas preguiçosas do Congresso Nacional decisões relevantes, reclamadas pela voz das ruas.
Logo, é justo falar de um saldo positivo. Ao contrário das nossas finanças públicas.
Alguns, mais impacientes ou mal acostumados, buscam nervosamente, em meio à multidão anônima, o rosto identificador. Mas sem sucesso. Porque o líder individualizado, conhecido como carismático, foi destituído pela vontade geral. Sem choro, nem vela. E já não era sem tempo. Resta apenas, como lembrança inútil, a fotografia desbotada do herói anacrônico. Houve um deslocamento dos núcleos hegemônicos, das lideranças concentracionárias, e poucos perceberam.
Foi exposto à visitação pública o despreparo dos nossos quadros dirigentes. E quem prepara esses profissionais são as múltiplas instâncias pedagógicas. Inclusive a miséria não se elimina por decreto. A inclusão social, o combate à pobreza, passam necessariamente pela educação. A educação integradora, a que prospera socialmente distante da pedagogia bancária, e perto da desmassificação das massas. Os professores e médicos devem ser reconhecidos como carreiras de Estado. Os professores reivindicam estabelecimentos de ensino equipados. Os melhores médicos do mundo jamais farão milagres sem infraestrutura operacional adequada.
Precisamos de um presidencialismo de coalizão. Antes de coalizão com a sociedade, e não só com os partidos hegemônicos, que deixaram de expressar a vontade societária. Essa despartidarização atípica, ao mesmo tempo em que alarga o espaço público, fortalece o indivíduo. Talvez esteja abrindo passagem para o único partido inteiro: o partido da condição humana. Ele mobiliza a classe média sempre esquecida e a classe média emergente. Dá vida nova às aspirações vitais sepultadas no mausoléu das reformas políticas sempre proteladas e das reformas tributárias escamoteadas. Em qualquer hipótese ficou clara a escassez da representação política legítima e íntegra. E é nesse quadro que as redes sociais se afirmam como formas de organização nem convencionais nem conveniadas. As redes sociais abriram as caixas-pretas das representações partidárias. Reduziram o fosso que separa a sociedade da informação da sociedade do conhecimento. Podemos concluir que já estamos no lucro.
A visão que nos deve orientar é certamente outra. Aquela que reconhece o simulacro da nossa democracia e inicia o trânsito do aglomerado de consumidores para a sociedade de cidadãos. A mesma que denuncia a corrupção, ampla, geral e irrestrita, as licitações ilícitas, os salários malandramente multiplicados pelas verbas de representação, e tantas outras mazelas que se escondiam por detrás de uma transparência opaca. Conseguimos retirar das pautas preguiçosas do Congresso Nacional decisões relevantes, reclamadas pela voz das ruas.
Logo, é justo falar de um saldo positivo. Ao contrário das nossas finanças públicas.
Alguns, mais impacientes ou mal acostumados, buscam nervosamente, em meio à multidão anônima, o rosto identificador. Mas sem sucesso. Porque o líder individualizado, conhecido como carismático, foi destituído pela vontade geral. Sem choro, nem vela. E já não era sem tempo. Resta apenas, como lembrança inútil, a fotografia desbotada do herói anacrônico. Houve um deslocamento dos núcleos hegemônicos, das lideranças concentracionárias, e poucos perceberam.
Foi exposto à visitação pública o despreparo dos nossos quadros dirigentes. E quem prepara esses profissionais são as múltiplas instâncias pedagógicas. Inclusive a miséria não se elimina por decreto. A inclusão social, o combate à pobreza, passam necessariamente pela educação. A educação integradora, a que prospera socialmente distante da pedagogia bancária, e perto da desmassificação das massas. Os professores e médicos devem ser reconhecidos como carreiras de Estado. Os professores reivindicam estabelecimentos de ensino equipados. Os melhores médicos do mundo jamais farão milagres sem infraestrutura operacional adequada.
Precisamos de um presidencialismo de coalizão. Antes de coalizão com a sociedade, e não só com os partidos hegemônicos, que deixaram de expressar a vontade societária. Essa despartidarização atípica, ao mesmo tempo em que alarga o espaço público, fortalece o indivíduo. Talvez esteja abrindo passagem para o único partido inteiro: o partido da condição humana. Ele mobiliza a classe média sempre esquecida e a classe média emergente. Dá vida nova às aspirações vitais sepultadas no mausoléu das reformas políticas sempre proteladas e das reformas tributárias escamoteadas. Em qualquer hipótese ficou clara a escassez da representação política legítima e íntegra. E é nesse quadro que as redes sociais se afirmam como formas de organização nem convencionais nem conveniadas. As redes sociais abriram as caixas-pretas das representações partidárias. Reduziram o fosso que separa a sociedade da informação da sociedade do conhecimento. Podemos concluir que já estamos no lucro.
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