quarta-feira, julho 10, 2013

A (in) dependente Dilma - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 10/07


A presidente não tem como prescindir do PMDB para 2014 e hoje depende dele para vencer 2013 sem uma série de rombos no caixa da União

O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, participava ontem da reunião da comissão especial que trata do projeto de orçamento impositivo, quando foi chamado ao Planalto. O presidente do Senado, Renan Calheiros, às vésperas de fechar o cronograma de apreciação dos vetos presidenciais, também foi instado a comparecer ao centro de comando político do Brasil. A cada chamamento, apelos por parte do governo a esses dois senhores. No geral, não há mais dúvidas: Dilma depende deles para desarmar as armadilhas impostas a seu governo, especialmente, agora que os líderes partidários decidiram tirar de cena o plebiscito sobre a reforma política.

Aos poucos, os castelos de cartas de intenções construídos pelo governo vão desmoronando. E, pelo andar da carruagem, o que vai sobrar é uma escalada repleta de armadilhas. Ontem, por exemplo, mal terminou a reunião que cuidava de enterrar o plebiscito, e a Câmara preparava-se para votar o orçamento impositivo. No Senado, as centrais sindicais pediam a Renan Calheiros uma lista de vetos que colocará Dilma sem condições de fazer nada, a não ser pagar as contas pendentes.

Na pauta dos sindicatos, está a derrubada do fator previdenciário, ou seja, o fim do desconto para aqueles que decidirem aposentar-se mais cedo. Se cair, os gastos aumentam em R$ 18 bilhões. O incremento de recursos para a Saúde, dentro da regulamentação da emenda 29, que também sofreu vetos, representa mais R$ 3 bilhões. No caso da Saúde, Dilma ainda pode usar esses recursos para levar avante os pontos do programa Mais Médicos para o Brasil. Mas, no caso do fator, são apenas contas que crescem com benefícios a “jovens” na faixa dos 50 e poucos e anos.

A ajuda que esses dois senhores, Renan e Henrique, pretendem dar ao governo é buscar um recesso, agora em julho, e dar tempo a Dilma para tentar remontar o jogo. Henrique, por exemplo, prometeu aos parlamentares recesso entre 18 de julho e 1º de agosto, a depender ainda de votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias. A pausa tem um objetivo: deixar que Dilma possa reformar o ministério e a formulação, ou seja, dar mais participação aos partidos, em especial ao PMDB, nas decisões governamentais. A depender do resultado dessas mudanças, eles voltam mais ou menos aliados do Poder Executivo.

Enquanto isso, na oposição...
Henrique e Renan, embora não digam abertamente, estão hoje muitos mais próximos do PSDB do que já estiveram em tempos passados. Afinal, se tem algo que o presidente do partido, senador Aécio Neves, é craque, é em trincar o jogo alheio. Fez isso com maestria quando foi candidato a presidente da Câmara, no início do ano 2000, ao aproveitar a briga PMDB-PFL. Agora, pré-candidato a presidente da República, faz o mesmo no que se refere à relação PT-PMDB.

Ontem, por exemplo, Aécio apresentou os pontos de reforma política defendidos pela executiva tucana. Ao mencionar a proposta que deixa o tempo de tevê de cada candidato a presidente da República e a governador estadual restrito aos partidos que compõem a chapa, ou seja, o do candidato e o do vice, Aécio jogou um comentário: “Hoje, existe a aliança PT-PMDB, que não sei se será reeditada…”. Só isso, somado ao almoço que ele e Henrique Alves tiveram no Rio de Janeiro (quando o presidente da Câmara deu carona a seus parentes no avião da FAB), é motivo para desconfianças generalizadas no PT.

Por falar em PT...
Nesse cenário, os petistas, hoje com incertezas quanto à reeleição, têm que olhar esses desfiles do PMDB ao lado de Aécio fingindo que nada está acontecendo. Afinal, o aliado é hoje o poderoso comandante do Parlamento. Por conta disso, o comportamento dos petistas, guardadas as devidas proporções, soa como aquela história da mulher que sabe das voltas do marido por aí, mas finge que não vê, para que o casamento não termine de vez. Talvez, Dilma esteja com essa desconfiança, daí, o fato de não chamar o vice Michel Temer em certas ocasiões.

Diante desse quadro, há quem diga que está na hora de a presidente chamar seu maior aliado, o PMDB, para, em vez de fazer apelos, ter aquela conversa olho no olho. Afinal, uma “DR”, discussão da relação, para pôr as coisas às claras, de vez em quando, é bom e necessário. No caso do PT e PMDB está mais do que claro que essa hora chegou. E é melhor agora do que deixar para o futuro, quando talvez seja tarde demais.

E os prefeitos...
Hoje, pela manhã será o ponto do alto da marcha. Às 8h30, no mesmo hotel, paralelamente ao evento e antes da chegada de todas as autoridades do governo federal, haverá uma homenagem ao ex-ministro da Agricultura Mendes Ribeiro, do PMDB do Rio Grande do Sul. Mais que merecida.

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