CORREIO BRAZILIENSE - 09/07
O programa dos médicos e votações no Congresso dão o sentido de movimento, mas ainda não criam a sensação de bem-estar geral, especialmente, na economia
Dada a grande presença de governadores, prefeitos e parlamentares na solenidade de lançamento do programa Mais Médicos para o Brasil — e os convites às categorias de saúde para que participassem do evento — está claro o esforço do governo para tentar recuperar terreno, e responder às manifestações com atitudes além do moribundo plebiscito. E, nesse quesito, a iniciativa foi positiva, uma vez que diante dos problemas do setor, não dá para esperar 10 anos para a contratação desses profissionais, nos pontos mais remotos do Brasil. Ontem, enquanto Dilma cuidava dessa parte, os políticos trabalhavam para dar uma turbinada na pauta política, com atos que podem servir de meio-termo entre os desejos da presidente e da base aliada. Falta a economia.
A inclusão na pauta do Senado do projeto que reduz de dois para um o número de suplentes de senadores é uma iniciativa nesse sentido. Até aqui, a proposta dormia nas gavetas, porque os senadores, a bem da verdade, não tinham tanta vontade assim de extinguir a figura dos suplentes. Tanto é que não acabarão com as suplências, uma vez que se trata apenas de redução. Terminará apenas a possibilidade de o senador colocar na chapa mulher e filhos, como fizeram no passado recente o atual líder do governo, Eduardo Braga (PMDB-AM), que tem como suplente a mulher Sandra; e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA), que tem na primeira suplência Lobão Filho, atualmente no exercício do mandato.
A proposta dos senadores, aqui vale um parêntese, não tira de cena aqueles que ajudaram a captar recursos para as campanhas. Alguns ficaram até famosos, caso do senador Wellington Salgado (PMDB-MG), que chegou ali na suplência do senador Hélio Costa. Outro que despontou assim foi Gilberto Miranda (PMDB-AM). No passado, ele foi suplente de dois senadores, Gilberto Mestrinho e Amazonino Mendes. Ambos terminaram encantados com a política. Wellington Salgado, certa vez, referiu-se ao Senado como o céu. Miranda comentou em entrevista que o Senado era uma “confraria”.
A redução das suplências, caso aprovada agora, deverá terminar compondo um referendum a ser apresentado ao eleitor juntamente com o portfolio de candidatos em 2014, assim como o fim da reeleição, que começa a entrar na pauta do Congresso. No momento, isso não está decidido, afinal, o objetivo central agora é mostrar um certo movimento para que a classe política consiga respirar, nem que seja por um breve período. Resta saber, entretanto, se o eleitor e os vários segmentos vão deixar. Hoje, tem marcha dos prefeitos para pressionar por mais recursos. Quinta-feira, tem uma mobilização dos sindicalistas em busca de benefícios. E tudo isso deixa o esforço do Planalto a desejar.
Enquanto isso, no mercado…
Ocorre que nem o programa Mais Médicos para o Brasil nem essas votações relacionadas à reforma política são suficientes para dar aos agentes econômicos e ao eleitorado como um todo aquele clima de que está tudo bem. A derrocada de Eike Batista, por exemplo, quando se percebe que não houve fiscalização por parte dos agentes públicos — leia-se, por exemplo, Agência Nacional de Petróleo —, ajuda no inverso, na submersão. Especialmente, em um país acostumado a ver economia e política caminharem juntas.
Essa parceria não é de hoje. Para ficar apenas na história recente, desde o governo do presidente José Sarney, cada um fez o seu plano, ou promessas econômicas, para conquistar ou manter o poder. Sarney, o Plano Cruzado. Collor apresentou um que levava seu nome. Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, o Plano Real. Lula não veio com planos econômicos, mas precisou da carta aos brasileiros para garantir que não faria bobagens com a economia. Depois, reelegeu-se graças aos planos sociais, que, à primeira vista, parecem insuficientes para fazer a presidente Dilma Rousseff manter-se com folga no projeto reeleitoral. Esta semana, Dilma terá que dar ainda algum sinal de que a derrocada de Eike Batista é um caso isolado. Até aqui, entretanto, parece que nada muda na seara econômica.
E na área externa…
A história de espionagem por parte dos Estados Unidos e as explicações cobradas por Dilma terminaram servindo de notícia positiva para a presidente. Na classe política, há quem diga que talvez o tornado das manifestações esteja perdendo força. Mas ainda não dá para suspender a vigília. Viagens e viajantes da FAB à parte, há tempos a maioria dos políticos não se mostrava tão atenta.
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