GAZETA DO POVO - PR - 13/07
Algumas faixas empunhadas pelos sindicalistas no Dia Nacional de Lutas diziam “Com Dilma”. É possível que estivessem apenas contra a equipe econômica do governo, mas o bloqueio ilegal em 66 trechos de estradas federais em 18 estados constitui evidentemente um ato de sabotagem contra Dilma Rousseff e os interesses nacionais. A presidente reagiu de imediato condenando a quebra da ordem em pronunciamento no Uruguai.
Um dos principais efeitos das jornadas de junho foi o de desvendar a deterioração do movimento sindical que em plena ditadura exibia invejável musculatura e consistência política. Justamente para desfazer a imagem de decrepitude produzida pelas formidáveis manifestações populares as centrais de trabalhadores tentaram improvisar uma reação que se mostrou escandalosamente contraproducente.
Os fantasmas do peleguismo saltaram da sepultura e exibiram de uma vez todos os estragos causados pela passagem do tempo. Os flagrantes de pagamento de um pró-labore aos manifestantes – logo apelidado de bolsa protesto – revelaram práticas que nem nos áureos tempos do sindicalismo chapa-branca foram tão visíveis.
Apavorados com a surpreendente alteração no tabuleiro político, setores do PT (aos quais, pelo visto, se aliou a Central Única dos Trabalhadores, CUT), adotaram uma estratégia míope, desesperada, de curto prazo. Ao invés de cerrarem fileiras em torno da presidente, fortalecendo-a mesmo quando tenta opções erradas, preferem preservar-se individualmente.
As ideias de importar médicos do exterior ou exigir dos recém-formados uma prestação de serviços no SUS encontraram resistências corporativas, porém, ofereceram a uma sociedade cansada de estéreis manobras eleitorais novas pautas para o debate. É isso que as passeatas queriam.
A presidente Dilma precisa ser fortalecida, a desastrada antecipação da sua re-candidatura concebida pelo presidente Lula não apenas serviu de alavanca para os protestos populares, mas deixou-a prematuramente entregue às feras. Se a tal base aliada só consegue ser fiel aos seus apetites, cabe aos realistas do PT buscar suportes em outras paragens. Convém não desprezar a dinâmica política e lembrar que o triunvirato Eduardo Alves-Renan Calheiros-Michel Temer jogava há poucos anos no time adversário. E com muita disposição.
Os ensaios de uma campanha “Volta, Lula” são deletérios e inoportunos. Fragilizam a administração Dilma e comprometem sua capacidade de aproveitar os restantes 17 meses do mandato para tomar decisões de capital importância. Com ou sem plebiscito.
O primeiro pronunciamento da presidente Dilma durante as manifestações foi tardio, não obstante teve a coragem de identificar sem subterfúgios as mensagens emitidas pelas ruas: chega de corrupção. Há dias, Dilma enfrentou com galhardia as vaias de grupos de prefeitos com uma das frases mais sinceras que pronunciou nos últimos tempos: “Vocês são prefeitos como eu sou presidente, vocês sabem que não podemos fazer milagres”.
Não foram os marqueteiros que lhe sopraram o desabafo, foi o seu instinto de sobrevivência. E esse instinto pode, sim, produzir milagres.
Nenhum comentário:
Postar um comentário