FOLHA DE SP - 13/07
A realidade muda muito rápido na China; o risco de perder espaço é sempre alto para quem não está atento
Nossas exportações para a China no primeiro semestre de 2013 tiveram um desempenho razoável, em razão do aumento das vendas de soja, sobretudo, e da estabilidade de vendas dos demais produtos da pauta agrícola.
Mas ainda há muito o que fazer para ampliar nossa presença no mercado chinês de alimentos.
Além disso, há sinais de alerta naquele mercado que não podem ser subestimados num horizonte de médio prazo. Aqui vão três:
1. Os chineses estão aumentando as compras de empresas agrícolas em países com tradição nesse segmento. Há casos recentes emblemáticos: o gigante do mercado de vestimentas Shandon Ruyi comprou a Cubbie Station na Austrália, gigante na produção de algodão. A Shanghaihui comprou a Smithfield Foods, líder em carne de porco nos EUA.
Não faltam notícias de que grandes empresas chinesas estão procurando oportunidades em agricultura e pecuária no mundo. O esforço de aquisições está visivelmente agressivo.
2. A China pode avançar em acordos de livre-comércio. O acordo com a Nova Zelândia, em vigor há cinco anos, está mostrando resultados. Mostrará ainda mais. Considere, por exemplo, o caso da carne bovina. A Nova Zelândia, país de pequena dimensão territorial, tem 26 abatedouros autorizados a exportar para a China. O Brasil, apenas nove.
A China e a Austrália estão negociando um ALC. Ele está emperrado em temas difíceis. Um deles é o montante de recursos que os chineses poderão investir na compra de empresas australianas sem o escrutínio de Canberra: os chineses querem um limite de US$ 910 milhões, os australianos menos da metade disso. Mas o novo primeiro-ministro australiano declarou que quer priorizar a negociação.
Há dias, o governo chinês deixou vazar que examina a possibilidade de associar-se à Estratégica Transpacífica de livre comércio. Se isso ocorrer, o que ainda parece improvável, dois gigantes agrícolas, os EUA e o Canadá, tornar-se-ão ainda mais competitivos.
3. Os chineses estão buscando viabilizar investimentos em agricultura na África. E tomar rumos inovadores, como o acordo celebrado em maio com a Índia para abrir a importação de carne de búfalo.
O setor privado brasileiro tem que estar atento. A CNA, por exemplo, abriu um escritório em Pequim e turbina sua atuação externa. O desafio não é banal. Envolve, a um só tempo, ampliar o relacionamento com compradores, organizar melhor a oferta e investir pesadamente na produção exportável.
A ação governamental também pode avançar. O Brasil deve valer-se mais da parceria estratégica com a China para abrir portas; conseguir, por exemplo, um aumento substancial do número de plantas autorizadas a exportar proteína.
Nada há que assuste no curtíssimo prazo. E o mercado é gigantesco. Mas não se pode tomar o ganho das exportações agrícolas como garantido. A realidade muda muito rapidamente num país como a China. O risco de perder espaço é sempre alto para quem não está atento. Assim como as oportunidades se multiplicam para quem tiver energia e não as deixar escapar.
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