O Estado de S.Paulo - 02/06
Uma estrela sobe no firmamento das Américas e não é a de Barack Obama, nem a do papa Francisco. O astro da hora é Juan Manuel Santos. Há três anos no cargo, o presidente colombiano governa um país em raro momento de paz, estabilidade e projeção internacional. Tem o aval da maioria do exigente eleitorado e dificilmente deixará de se reeleger no ano que vem.
O receituário "santista" nada tem de populismo barato ou de arroubos ideológicos. É a humildade fiscal combinada com o oportunismo político, na mão de quem sabe ocupar espaços e evitar as atoleiros em um mundo em transição. Com o quinto PIB latino-americano, a economia colombiana já desbancou a da Argentina. Os investidores estrangeiros derramam dinheiro na indústria mineral e petroleira.
A prosperidade segue no rastro da paz. Os índices de violência caíram. Até a guerrilha parece cooperar. Semana passada, o governo de Santos anunciou o primeiro passo para o fim do conflito com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que infernizam o país há meio século.
Sucesso. O acordo, firmado em Havana, Cuba, é parcial e trata apenas das regras da distribuição de terras nas zonas em conflito. As Farc ainda não entregaram as armas. Entretanto, aos 49 anos, a guerrilha está sem lastro popular e dá claríssimos sinais de cansaço.
Santos não criou sozinho o bom momento colombiano. Foi eleito há três anos com uma mistura de aplauso comedido e franco ceticismo. Novato na política, ele deve sua eleição ao antecessor, Álvaro Uribe, que ergueu a muralha da renascença.
A contragosto do nacionalismo latino-americano, ele aceitou US$ 7 bilhões em ajuda bélica e moral de Washington e botou a guerrilha para correr. As fileiras das Farc definharam, recuaram mata adentro e enterraram no caminho meia dúzia de comandantes.
Implacável, Uribe colheu louros e inimigos. Ambicioso, fracassou na tentativa de mudar a Constituição e ganhar um terceiro mandato. Resignou-se com o papel de padrinho e emplacou seu sucessor, o inexperiente Santos.
Como ministro da Fazenda e depois da Defesa, Santos ajudou a executar a ofensiva uribista. Herdou a paz que levou ao boom econômico, mas soube evitar o radicalismo do chefe que fez de Uribe um Dom Quixote das Américas.
Jogador, Santos estendeu a mão para Hugo Chávez na tentativa de encerrar a danosa guerra fria entre os dois vizinhos. Seu patrono tachou-o de traidor. Santos ainda lançou a Colômbia rumo a uma arriscada diplomacia de resultados, com sua reputação em jogo e dividendos ainda desconhecidos.
Acerto. Até o momento, acertou em cheio. Uma das garantias de que Santos está no caminho certo é a sua crítica bipolar. De um lado, apanha de Uribe, que atira contra Santos com sua conta no Twitter como bombardeava os guerrilheiros com helicópteros Black Hawk. Ingênuo, irresponsável e entreguista são alguns dos salvos uribistas contra o seu sucessor.
De outro lado, colhe a fúria da ala bolivariana do continente. Semana passada, após a visita a Bogotá do líder oposicionista venezuelano, Henrique Capriles, o presidente Nicolás Maduro acusou Santos de "meter uma punhalada nas costas da Venezuela".
De ultraje a ultraje, Santos navega bem. E ainda aproveita as oportunidades perdidas na acidentada política internacional. No novo Mercosul companheiro, o abraço à Venezuela preteriu as trocas econômicas do bloco, que recuaram 9% em 2012. Já na Aliança do Pacífico, o mais recente pacto latino-americano, o comércio aumentou 1,3% no ano passado. Nada mal em um momento em que a economia global patina. O líder do bloco? A Colômbia, é claro.
Santos quer mais e já projeta a Aliança do Pacífico como o novo motor de crescimento para as Américas. Ainda é uma aposta, assim como é a diplomacia de resultados de Bogotá e como também é a arriscada negociação com as Farc. No entanto, é a melhor jogada no momento na América Latina.
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