domingo, junho 02, 2013

O PIB afogou-se na marolinha - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 02/06

É hora de pensar em uma agenda que contemple facilitar a vida de quem quer investir. E também de aceitar que não é possível continuar elevando os custos fixos do governo


É até surpreendente que o anúncio do PIB do primeiro trimestre de 2013 tenha surpreendido alguém. Não que haja algo errado com os modelos matemáticos adotados por bancos e corretoras para calcular os números futuros – em geral, eles são tão precisos quanto às informações disponíveis permitem. A questão é que, no Brasil desses últimos tempos, os pessimistas têm sido recompensados em suas avaliações econômicas.

Eis os números, divulgados na quarta-feira: no período janeiro-março, as riquezas geradas no país acumularam crescimento de 0,6% em relação aos dados fechados de 2012; o crescimento acumulado nos 12 meses encerrados em março foi de 1,9%. Em ambos os casos, o mercado esperava desempenhos melhores. Os dados também são incompatíveis com as expectativas do governo, que alardeava um crescimento de 3,5% em 2013. Nada muito ousado, aliás.

A última atualização dos indicadores da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) já incorpora a “freada”. Antes, a OCDE previa crescimento de 4% para o Brasil em 2013. Agora, a organização trabalha com a perspectiva de 2,9% para este ano e 3,48% para 2014. Só para comparar com um país de relevância semelhante no mercado global, a previsão para o México é de 3,35% para este ano e 3,75% para o próximo.

O Brasil paga agora o preço de ter menosprezado a influência da crise econômica internacional sobre as variáveis internas. Lembram-se da “marolinha” de que falava o ex-presidente Lula? Pois ela acabou por revelar-se uma longa maré baixa, em que o comércio internacional reduziu-se e os preços de mercadorias recuaram. O Brasil reagiu à crise com uma aposta no mercado interno. A resposta foi boa, e os incentivos foram sendo ativados e reativados periodicamente, ao sabor da crise. Porém, pouco foi feito em termos de mudanças estruturais, duradouras. À medida que a má fase se prolongava, os instrumentos foram se exaurindo. E a economia brasileira perdeu o vigor.

Não há como dizer que essa é a hora de fazer reformas reais e audaciosas – de fato, esse momento já passou. Mas o Brasil ainda tem a chance de deixar para trás, junto com a crise atual, fatores que limitam seu crescimento. Para isso, entretanto, será preciso esquecer algumas práticas que marcaram o jeito de o governo fazer as coisas nos últimos anos. O incentivo ao consumo, limitado a setores-chave da economia – em especial as montadoras, espécie de filho favorito e malcriado da equipe econômica, que absorve as benesses do governo e as transforma em lucro, ignorando a expectativa de preços menores declarada tanto pela administração federal quanto do público em geral –, não faz mais efeito e tende, agora, a estimular o endividamento e a inadimplência.

Para dar ao país um sentido de crescimento, convém agregar outros segmentos ao cesto dos incentivos. É correto levar em conta o efeito multiplicador que os grandes setores têm na economia, mas enxergá-los como o último salva-vidas do Titanic é, no mínimo, ingênuo. Não se deve esquecer do imenso contingente de trabalhadores que dependem de micro e pequenas empresas. Não se pode deixar de lado as tremendas necessidades de infraestrutura logística do país, que clamam por investimentos. E não se deve ignorar a indicação proverbial e bíblica segundo a qual a sabedoria pode ser encontrada na multidão dos conselhos. Por que não consultar os diversos segmentos da economia brasileira e elaborar uma política de crescimento que seja digna desse nome?

É hora de pensar em uma agenda que contemple facilitar a vida de quem quer investir. E também de aceitar que não é possível continuar elevando os custos fixos do governo – com gastos e pessoal em alta – em tempos de vacas magras.

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