O GLOBO - 02/06
Em razão das dimensões continentais do território e, principalmente, devido a distorções estruturais ditadas por uma ocupação irregular, com poucos grandes centros economicamente mais desenvolvidos, o Brasil preserva profundas demandas em infraestrutura, em serviços etc. Entre as atividades em que as carências mais fortemente se manifestam, a rede nacional de atendimento médico a população aparece com grandes contenciosos que, em maior ou menor grau, se espalham por todas as regiões do país.
Dos pouco mais de 5.500 municípios brasileiros, três mil deles não têm médicos. Ou seja, mais da metade das cidades do país sofre dessa carência, numa área essencial entre os direitos que o poder público deve assegurar aos cidadãos. Em comparação com outros países, o Brasil amarga um desalentador indicador, com uma proporção de menos de dois profissionais (1,8) por grupos de mil habitantes; nos EUA a relação é de 2,4/mil; na Alemanha, 3,6/mil; em Portugal, 3,9/mil; na Espanha, o índice alcança quatro médicos por mil habitantes.
Se for levada em conta a desproporcionalidade na distribuição regional deste já relativamente pequeno número de profissionais — mais médicos nas regiões Sul e Sudeste, aguda carência nos estados do Norte e do Nordeste —, é de se estimar como gigantesca a faixa territorial absolutamente desassistida. Pior: também há carências mesmo nos centros mais bem atendidos.
Atenuar essas disparidades e melhorar a proporção de médicos em relação à população, até alcançar indicadores mais próximos das necessidades do país, requer ações de longo prazo, papel das políticas estratégicas, e iniciativas imediatas.
Entre estas últimas, a anunciada disposição do governo de importar profissionais de outros países (Espanha, Portugal e Cuba) é medida das mais acertadas. É uma saída pontual para enfrentar, de pronto, carências que se tornam cada vez mais críticas, e que em algumas regiões se avolumam de forma grave. Não se trata de substituir mão de obra brasileira por força de trabalho estrangeira, mas de uma soma. Uma iniciativa que visa a enfrentar uma crise profissional em curso, estabelecendo critérios (sendo o da comprovada competência profissional um pressuposto inegociável) e tendo como ponto pacífico que se trata de recurso para preencher lacunas profissionais.
Como era de se esperar, essa bem-vinda providência tem sido alvo de bombardeio corporativista. O arsenal empregado nas críticas também não espanta, destacando-se o argumento de que a falta de médicos na rede pública se deve, principalmente, aos baixos vencimentos pagos aos profissionais.
É fato que a remuneração é um fator de maior ou menor atração para qualquer categoria, mas ocorre que há carência de médicos também em centros urbanos nos quais os salários são melhores. No essencial, o que está em jogo é a necessidade de fazer frente a uma aguda crise na Saúde do país, da qual a demanda por mais médicos é um ponto a ser atacado de imediato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário