domingo, junho 30, 2013

Esperanças e muitas dúvidas - CLÁUDIO SLAVIERO

GAZETA DO POVO - PR - 30/06

Depois de longo período de letargia, a sociedade brasileira finalmente acordou com protestos nas principais cidades do país, que sacudiram o Brasil a partir de uma ensurdecedora vaia à presidente da República Dilma Rousseff e ao presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter, na abertura da Copa das Confederações, no último dia 15.

Apesar da dose – sempre condenável – de violência, que acaba aflorando lamentavelmente em movimentos coletivos (basta ver o fenômeno das torcidas organizadas dos times de futebol), os milhares de pessoas de todas as idades que foram e continuam indo às ruas em todo o país em número cada vez maior indicam que o brasileiro, enfim, cansou de ser marionete de políticos e encurralado pelos impostos, e que os desmandos passaram dos níveis que poderiam ser considerados aceitáveis. Era inevitável uma resposta da sociedade.

Mesmo com tudo isso, a presidente Dilma não consegue dar à nação uma resposta convincente de que é capaz pelo menos de fazer algo para minorar os prejuízos que o petismo e seu desgoverno vêm causando ao país nesta década. Seus discursos, especialmente o segundo, ao convocar os governadores e prefeitos de cidades de grande porte a Brasília para um pacto, foi absolutamente chocho, próprio de alguém preocupado em desviar a atenção para um debate paralelo, com um assunto envolvente – a reforma política. Mas um discurso que nada apresentou de prático, de objetivo. Podemos ser favoráveis a um plebiscito sobre a reforma política, e é óbvio que a maioria dos brasileiros é favorável a essa reforma. No entanto, não se pode atropelar o Congresso. Ou, ignorando a Constituição, corremos o risco de nos transformar em uma grande Venezuela. Não adianta só elogiar as manifestações; a turma de Dilma teria de pedir perdão e respeitar o país como um todo. E é isso que o país está querendo e mostrando. A população parece ter cansado de apenas circo e pão.

É tamanha a mobilização que Lula, para quem vale tudo na política, banalizando o roubo e desmoralizando a ética, o eterno pai dos pobres e controlador dos movimentos dos petistas, colocou suas barbas (que ele não tem mais) de molho e recolheu-se, inclusive cancelando compromissos nos primeiros dias do movimento das ruas e se fingindo de morto. É preciso ficar claro agora: o que Lula, Zé Dirceu e sua turma (inclusive Dilma) semearam durante seus anos de governo, Dilma e seus 40 ministros estão colhendo agora.

Mantenho algumas dúvidas, infelizmente, que têm muita procedência na história recente de nossa população, especialmente depois da geração PT no poder. Mas também há esperanças. Tenho esperança de que essas manifestações continuem de forma ordeira, quando da prisão, já decretada, de Zé Dirceu e de outros mensaleiros; que se repitam quando forem feitas investigações sobre enriquecimentos irregulares de pessoas ligadas a autoridades federais – por exemplo, de um dos filhos de Lula, que comprou recentemente um avião Gulfstream GIII por US$ 50 milhões; que se repitam quando houver no governo federal protecionismo a grupos de apaniguados e dinheiro público farto aos amigos; que se repitam quando houver desmoralização das instituições, veto à maior amplitude democrática com a proibição de novos partidos que poderiam ameaçar a reeleição; que se repitam quando houver ameaça de controle da mídia; que se repitam quando houver tentativa de submeter o Supremo Tribunal Federal ao Congresso. E tenho esperança, mas muitas dúvidas, de que esta mobilização se repita, democraticamente, nas eleições de outubro de 2014.

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