CORREIO BRAZILIENSE - 30/06
Depois de uma maratona de reuniões sobre a reforma política, que, registre-se, dificilmente sairá do papel neste ou no próximo ano, a presidente Dilma Rousseff vai dedicar os dias ao governo e à agenda principal das manifestações, ou seja, a prestação de serviços públicos. Para muitos, essa reunião ministerial, se não insistir na tecla da reforma política e entrar na agenda das ruas, será um alento.
Há mais de 10 dias, parcela expressiva da população cobra nas ruas melhorias no atendimento em todas as áreas e níveis de governo. E o que se viu até agora foi uma conversaria danada sobre reforma política - o tema recorrente sempre que surge uma crise - e a tentativa de construir pontes com movimentos sociais afastados do Poder Executivo. Ambas iniciativas são muito positivas e aprovadas pela população, mas gestão que é bom, e algo que sinalize atitude mais firme em relação à economia, nada até o momento. Se continuar assim, Dilma corre o risco de afugentar os aliados, encher de incertezas o jogo eleitoral do ano que vem e não conseguir dar um fim às manifestações.
Governo e partidos venderam a falsa ideia de que o plebiscito e a reforma política resolverão os problemas do país e as cobranças das manifestações. Esse caminho é perigoso. As reuniões até aqui deixaram de fora a agenda econômica, a prestação de serviços e a entrega de obras à população. O anúncio de mais verbas para setores prioritários, embora seja relevante, deixa a desejar no momento em que o governo não gastou sequer 50% do que estava previsto, e já estamos na metade do ano. Os empenhos continuam em ritmo lento.
Para completar, o PAC aos poucos parece virar PDC - programa de desaceleração do crescimento. Em 10 de junho, por exemplo, chegava aos jornais a notícia de que Benjamin Steinbruch desacelerava a fábrica de dormentes em Salgueiro (PE), três anos depois de inaugurada por Lula. A fábrica foi anunciada em agosto de 2010, em plena temporada eleitoral, como uma promessa de geração de empregos e até mesmo recordes mundiais na produção de dormentes de concreto para serem utilizados na Transnordestina e em outros projetos ferroviários Brasil afora. Agora, o saldo é de 300 empregos a menos na cidade.
Enquanto isso, na política...
Notícias como essa deixam aos aliados a impressão de que o "agora vai", estampado pelo ex-presidente em 2010, não tem correspondência com a situação do país hoje. Na luta pela sobrevivência, empresários reduzem custos e investimentos. Políticos aprovam projetos a toque de caixa para que a população se sinta atendida. As entidades sindicais, que até agora apoiaram o governo e se mantiveram à margem das manifestações - até porque já foram expulsas -, em breve vão engrossar a onda de descontentamento generalizado, porque, afinal, também querem sobreviver como tal.
Nesse contexto, o governo vai ficando sozinho e enfraquecido, ainda mais quando exposto à queda de popularidade estampada ontem no Datafolha, de 57% para 30%. Para se recuperar, Dilma terá que providenciar algo que faça com que a população sinta firmeza na condução do país. O governo paulista, por exemplo, anunciou a redução da máquina estadual para fazer frente à redução do preço da passagem de metrô. No governo, o que se vê, em meio ao anúncio de desonerações e a ampliação de recursos para alguns setores estratégicos, é a criação de empresas e cargos.
E na eleição...
Esse sentimento de que algo não vai bem e não apresenta perspectiva de grandes melhoras fez com que todos os adversários da presidente Dilma Rousseff se mostrassem mais ativos. Aécio Neves trabalha para atrair o PP - volta e meia se reúne com o colega de Senado, Ciro Nogueira, que preside o partido. Também acena com uma aproximação perante o PTB.
Em outra ponta, o governador Eduardo Campos (PSB-PE) tem sido mais procurado por aliados de Dilma. Em algumas conversas, cita-se inclusive o nome do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) como possível candidato a vice-presidente na chapa de Eduardo. Se esse desenho vingar, o PSB ganha força num terreno em que as manifestações crescem e nem Dilma nem o PMDB do governador do Rio, Sérgio Cabral, têm uma vantagem avassaladora - embora, verdade seja dita, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) apareça bem nas pesquisas. Na raia 3 da política de oposição, ainda há Marina Silva, que se mantém bem posicionada nas pesquisas.
E por falar em pesquisas...
O PMDB encomendou uma consulta nacional para medir o grau do estrago político provocado pelas manifestações e quem foi mais atingido, mas o Datafolha se antecipou, e a queda de Dilma certamente dará o tom da reunião da Comissão Executiva Nacional do partido na terça-feira. Mas essa é outra história. Hoje, é dia de futebol, algo que, até aqui, o torcedor brasileiro não tem do que reclamar em termos de resultados em campo. Vamos, que vamos! Brasiiiiiillllll!
Há mais de 10 dias, parcela expressiva da população cobra nas ruas melhorias no atendimento em todas as áreas e níveis de governo. E o que se viu até agora foi uma conversaria danada sobre reforma política - o tema recorrente sempre que surge uma crise - e a tentativa de construir pontes com movimentos sociais afastados do Poder Executivo. Ambas iniciativas são muito positivas e aprovadas pela população, mas gestão que é bom, e algo que sinalize atitude mais firme em relação à economia, nada até o momento. Se continuar assim, Dilma corre o risco de afugentar os aliados, encher de incertezas o jogo eleitoral do ano que vem e não conseguir dar um fim às manifestações.
Governo e partidos venderam a falsa ideia de que o plebiscito e a reforma política resolverão os problemas do país e as cobranças das manifestações. Esse caminho é perigoso. As reuniões até aqui deixaram de fora a agenda econômica, a prestação de serviços e a entrega de obras à população. O anúncio de mais verbas para setores prioritários, embora seja relevante, deixa a desejar no momento em que o governo não gastou sequer 50% do que estava previsto, e já estamos na metade do ano. Os empenhos continuam em ritmo lento.
Para completar, o PAC aos poucos parece virar PDC - programa de desaceleração do crescimento. Em 10 de junho, por exemplo, chegava aos jornais a notícia de que Benjamin Steinbruch desacelerava a fábrica de dormentes em Salgueiro (PE), três anos depois de inaugurada por Lula. A fábrica foi anunciada em agosto de 2010, em plena temporada eleitoral, como uma promessa de geração de empregos e até mesmo recordes mundiais na produção de dormentes de concreto para serem utilizados na Transnordestina e em outros projetos ferroviários Brasil afora. Agora, o saldo é de 300 empregos a menos na cidade.
Enquanto isso, na política...
Notícias como essa deixam aos aliados a impressão de que o "agora vai", estampado pelo ex-presidente em 2010, não tem correspondência com a situação do país hoje. Na luta pela sobrevivência, empresários reduzem custos e investimentos. Políticos aprovam projetos a toque de caixa para que a população se sinta atendida. As entidades sindicais, que até agora apoiaram o governo e se mantiveram à margem das manifestações - até porque já foram expulsas -, em breve vão engrossar a onda de descontentamento generalizado, porque, afinal, também querem sobreviver como tal.
Nesse contexto, o governo vai ficando sozinho e enfraquecido, ainda mais quando exposto à queda de popularidade estampada ontem no Datafolha, de 57% para 30%. Para se recuperar, Dilma terá que providenciar algo que faça com que a população sinta firmeza na condução do país. O governo paulista, por exemplo, anunciou a redução da máquina estadual para fazer frente à redução do preço da passagem de metrô. No governo, o que se vê, em meio ao anúncio de desonerações e a ampliação de recursos para alguns setores estratégicos, é a criação de empresas e cargos.
E na eleição...
Esse sentimento de que algo não vai bem e não apresenta perspectiva de grandes melhoras fez com que todos os adversários da presidente Dilma Rousseff se mostrassem mais ativos. Aécio Neves trabalha para atrair o PP - volta e meia se reúne com o colega de Senado, Ciro Nogueira, que preside o partido. Também acena com uma aproximação perante o PTB.
Em outra ponta, o governador Eduardo Campos (PSB-PE) tem sido mais procurado por aliados de Dilma. Em algumas conversas, cita-se inclusive o nome do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) como possível candidato a vice-presidente na chapa de Eduardo. Se esse desenho vingar, o PSB ganha força num terreno em que as manifestações crescem e nem Dilma nem o PMDB do governador do Rio, Sérgio Cabral, têm uma vantagem avassaladora - embora, verdade seja dita, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) apareça bem nas pesquisas. Na raia 3 da política de oposição, ainda há Marina Silva, que se mantém bem posicionada nas pesquisas.
E por falar em pesquisas...
O PMDB encomendou uma consulta nacional para medir o grau do estrago político provocado pelas manifestações e quem foi mais atingido, mas o Datafolha se antecipou, e a queda de Dilma certamente dará o tom da reunião da Comissão Executiva Nacional do partido na terça-feira. Mas essa é outra história. Hoje, é dia de futebol, algo que, até aqui, o torcedor brasileiro não tem do que reclamar em termos de resultados em campo. Vamos, que vamos! Brasiiiiiillllll!
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