lista é longa e não termina aqui. O incentivo ao consumo foi colocado em primeiro plano, como se fosse suficiente para estimular investimentos. Bancos públicos sofreram pressão para conceder crédito, se expondo a riscos com aportes bilionários do Tesouro. A crise internacional foi subestimada, marcos regulatórios foram alterados a toque de caixa, medidas econômicas passaram a ser anunciadas em cadeia nacional de televisão, como uma benesse do governo à população.
Muitos economistas emitiram alertas sobre esses equívocos. O PIB baixo, a inflação novamente elevada, a ameaça de rebaixamento da nota do país e, principalmente, a queda da popularidade da presidente aumentaram a sensibilidade do governo às críticas. O Banco Central deu meia-volta na política monetária e voltou a subir os juros, de forma unânime, endurecendo o discurso. Começou a reverter a situação, mas o custo foi alto: as expectativas para o IPCA fugiram do centro da meta de 4,5% para um período de 24 meses à frente.
Na política fiscal, tudo é ainda ambíguo. No mesmo dia em que volta a falar de austeridade, o governo anuncia uma nova emissão de dívida para injetar dinheiro na Caixa e estimular o consumo. A despesa do governo com juros caiu de 5,69% do PIB, em agosto de 2011, para 4,81%, em abril deste ano, por causa da redução da Selic. Mas, ainda assim, o déficit nominal subiu, de 2% para 2,92%, no mesmo período.
As declarações do ministro Guido Mantega são um flanco aberto na credibilidade da política econômica. Disse na quarta-feira que a inflação está caindo de forma consistente, mas, na verdade, está em alta no acumulado de 12 meses e, em junho, deve estourar o teto da meta pela décima vez no governo Dilma. Ainda é possível mudar o rumo, mas é inevitável a constatação de que muito tempo foi perdido.
O causador da confusão no câmbio
O gráfico mostra o causador da confusão no mercado de câmbio mundial nas últimas semanas: os títulos do Tesouro americano com vencimento em 10 anos. Vejam como os juros subiram a partir de maio. Estavam abaixo de 1,6% e agora estão em 2,2%. O que mais chama atenção é que antes de o BC americano intensificar o despejo de dólares na economia, esses papéis rendiam mais de 3%, chegando próximo de 4%. Isso quer dizer que, quando tudo voltar ao normal por lá, a tendência de alta dos juros é enorme. Um mau sinal para outros tipos de ativos espalhados pelo mundo, como bolsa de países emergentes, commodities e moedas.
Protestos x endividamento
Desde o penúltimo reajuste das tarifas de ônibus em São Paulo, em janeiro de 2011, o brasileiro ficou mais endividado e com menor renda disponível. O endividamento subiu de 39% para 43% da renda acumulada em 12 meses, enquanto o gasto com pagamento de dívidas subiu de 19,9% para 21,6% da renda mensal. Soma-se a isso a alta forte da inflação no período, de 16%, acumulada de janeiro de 2011 a maio de 2013, com grande peso de custos fixos como alimentação e alguns tipos de serviços, e o bolso do brasileiro ficou mais sensível ao reajuste das tarifas.
INDICADOR DO PIB. O PIB mensal calculado pelo Itaú Unibanco subiu 0,8% em abril na comparação com o mês anterior. A prévia de maio, no entanto, mostra um cenário diferente: queda de 0,7%.
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