No mês passado, neste encontro com os leitores do Valor, escrevi que via a crise econômica internacional entrando em seu capítulo final. Nas semanas seguintes a este meu comentário uma nova onda de nervosismo tomou conta dos mercados financeiros ao redor do mundo. Alguns leitores devem ter pensado com seus botões: "que gafe cometeu o Luiz Carlos, vítima de seu eterno otimismo com o funcionamento das economias de mercado".
Por isso quero reafirmar minha convicção de que o mundo deve voltar a crescer e um novo período de otimismo voltará a ser o padrão na maior parte dos países. Com isto será colocada no ostracismo toda uma geração de pessimistas que pulula hoje nas mesas de operações de instituições financeiras. Os negócios e os investimentos voltarão então a ser orientados por analistas que olham com maior profundidade o funcionamento da economia real.
Entretanto, confesso que, no calor dos dias de tumultos que vivemos nas últimas semanas, senti certo frio na barriga ao ser varrido pelo sentimento de que poderia estar errado em meu diagnóstico. Afinal o índice Footsie da Bolsa de Londres caiu quase 9%, o S&P da Bolsa de Nova York quase 4% e o nosso coitado Bovespa mais de 20%. Também nos mercados de câmbio as moedas dos principais países emergentes sofreram fortes desvalorizações em relação ao dólar americano. O dólar australiano - uma das moedas mais importantes - perdeu quase 10% de seu valor em poucas sessões de negociações.
Apenas a leitura de comentários e análises de alguns economistas que respeito muito me devolveu a segurança de continuar a pensar como antes. Ajudou-me muito também a leitura retrospectiva de outros momentos de pânico que aconteceram entre 2010 e agora. O gráfico abaixo, tomando as cotações da Bolsa de Londres como referência, mostra o padrão de comportamento de outros mercados neste mesmo período. Nele o leitor pode encontrar pelo menos quatro momentos críticos em que os catastrofistas pareciam ter o domínio da situação.
O primeiro deles, em março de 2011, quando da ocorrência do tsunami no Japão houve um terremoto nos mercados de risco com o Footsie caindo 7% em poucos dias, mas voltando rapidamente ao nível inicial, descrevendo assim um V especulativo clássico. Em julho desse mesmo ano, com a divulgação de um crescimento do PIB americano muito abaixo das previsões, o Footsie despencou mais de 17%, voltando ao nível anterior nos primeiros meses de 2012. Um movimento em V clássico também, embora mais longo e distribuído em um período de tempo maior. O terceiro movimento deu-se em março de 2012, a partir do resultado inesperado nas eleições na Grécia. O Footsie caiu em poucas semanas quase 12% e o euro chegou a € 1,20 em relação ao dólar americano, com alguns radicais apostando que a moeda europeia atingiria a paridade com a moeda americana. A corajosa ação do Banco Central Europeu na defesa do euro devolveu progressivamente a calma aos mercados que, mais uma vez, recuperaram-se das perdas anteriores. Essa dinâmica foi reforçada pela decisiva ação do Fed nos Estados Unidos, e por mais um fantasma - o chamado Abismo Fiscal - enterrado pelos mercados no que já chamei de cemitério de fantasmas que não existiram.
Mas esse clima foi interrompido agora por outra ameaça de fim de mundo que, segundo uma parte majoritária dos mercados, deve ocorrer com a normalização dos juros nos Estados Unidos. Mais uma vez a racionalidade foi abandonada e os negócios passaram a serem comandados pelas mesas de operações. Segundo o mercado, a normalização dos juros americanos que se tornará necessária em função da retomada do crescimento sustentado, fará com que todo o dinheiro que existe no mundo seja direcionado para aplicações em títulos de Tesouro americano. Nesse movimento de manada, os mercados de ações, principalmente nos chamados países emergentes, ficarão à míngua e os preços das ações vão despencar.
No raciocínio do mercado o Fed, apesar de todo seu sucesso e competência na administração da crise até agora, será incapaz de fazer com que esse processo ocorra de forma organizada. Esquecem os que defendem esse caminho que, além da hipótese de que a normalização dos juros poderá ser administrada com êxito pelo Fed, ela virá associada a um bom motivo: a volta do crescimento econômico na maior economia do mundo. E sabemos que esse movimento irá atingir também outras economias via demanda americana por bens e serviços produzidos nesses países. A China, que vem encontrando alguma dificuldade em administrar um novo modelo de crescimento, receberá um apoio adicional via exportações para os Estados Unidos. O mesmo vai ocorrer em outros países emergentes, como o Brasil. Também a Europa, que vive um processo doloroso e lento de recuperação, sairá fortalecida.
Mas, acima de tudo, meu otimismo nasce da confiança que tenho na competência do Fed em gerir esse processo de normalização de juros. Depois de anos mostrando uma incrível capacidade de navegar em águas desconhecidas e perigosas, não vai ser agora que Ben Bernanke e sua equipe vão afundar o barco do Fed.
Por isso quero reafirmar minha convicção de que o mundo deve voltar a crescer e um novo período de otimismo voltará a ser o padrão na maior parte dos países. Com isto será colocada no ostracismo toda uma geração de pessimistas que pulula hoje nas mesas de operações de instituições financeiras. Os negócios e os investimentos voltarão então a ser orientados por analistas que olham com maior profundidade o funcionamento da economia real.
Entretanto, confesso que, no calor dos dias de tumultos que vivemos nas últimas semanas, senti certo frio na barriga ao ser varrido pelo sentimento de que poderia estar errado em meu diagnóstico. Afinal o índice Footsie da Bolsa de Londres caiu quase 9%, o S&P da Bolsa de Nova York quase 4% e o nosso coitado Bovespa mais de 20%. Também nos mercados de câmbio as moedas dos principais países emergentes sofreram fortes desvalorizações em relação ao dólar americano. O dólar australiano - uma das moedas mais importantes - perdeu quase 10% de seu valor em poucas sessões de negociações.
Apenas a leitura de comentários e análises de alguns economistas que respeito muito me devolveu a segurança de continuar a pensar como antes. Ajudou-me muito também a leitura retrospectiva de outros momentos de pânico que aconteceram entre 2010 e agora. O gráfico abaixo, tomando as cotações da Bolsa de Londres como referência, mostra o padrão de comportamento de outros mercados neste mesmo período. Nele o leitor pode encontrar pelo menos quatro momentos críticos em que os catastrofistas pareciam ter o domínio da situação.
O primeiro deles, em março de 2011, quando da ocorrência do tsunami no Japão houve um terremoto nos mercados de risco com o Footsie caindo 7% em poucos dias, mas voltando rapidamente ao nível inicial, descrevendo assim um V especulativo clássico. Em julho desse mesmo ano, com a divulgação de um crescimento do PIB americano muito abaixo das previsões, o Footsie despencou mais de 17%, voltando ao nível anterior nos primeiros meses de 2012. Um movimento em V clássico também, embora mais longo e distribuído em um período de tempo maior. O terceiro movimento deu-se em março de 2012, a partir do resultado inesperado nas eleições na Grécia. O Footsie caiu em poucas semanas quase 12% e o euro chegou a € 1,20 em relação ao dólar americano, com alguns radicais apostando que a moeda europeia atingiria a paridade com a moeda americana. A corajosa ação do Banco Central Europeu na defesa do euro devolveu progressivamente a calma aos mercados que, mais uma vez, recuperaram-se das perdas anteriores. Essa dinâmica foi reforçada pela decisiva ação do Fed nos Estados Unidos, e por mais um fantasma - o chamado Abismo Fiscal - enterrado pelos mercados no que já chamei de cemitério de fantasmas que não existiram.
Mas esse clima foi interrompido agora por outra ameaça de fim de mundo que, segundo uma parte majoritária dos mercados, deve ocorrer com a normalização dos juros nos Estados Unidos. Mais uma vez a racionalidade foi abandonada e os negócios passaram a serem comandados pelas mesas de operações. Segundo o mercado, a normalização dos juros americanos que se tornará necessária em função da retomada do crescimento sustentado, fará com que todo o dinheiro que existe no mundo seja direcionado para aplicações em títulos de Tesouro americano. Nesse movimento de manada, os mercados de ações, principalmente nos chamados países emergentes, ficarão à míngua e os preços das ações vão despencar.
No raciocínio do mercado o Fed, apesar de todo seu sucesso e competência na administração da crise até agora, será incapaz de fazer com que esse processo ocorra de forma organizada. Esquecem os que defendem esse caminho que, além da hipótese de que a normalização dos juros poderá ser administrada com êxito pelo Fed, ela virá associada a um bom motivo: a volta do crescimento econômico na maior economia do mundo. E sabemos que esse movimento irá atingir também outras economias via demanda americana por bens e serviços produzidos nesses países. A China, que vem encontrando alguma dificuldade em administrar um novo modelo de crescimento, receberá um apoio adicional via exportações para os Estados Unidos. O mesmo vai ocorrer em outros países emergentes, como o Brasil. Também a Europa, que vive um processo doloroso e lento de recuperação, sairá fortalecida.
Mas, acima de tudo, meu otimismo nasce da confiança que tenho na competência do Fed em gerir esse processo de normalização de juros. Depois de anos mostrando uma incrível capacidade de navegar em águas desconhecidas e perigosas, não vai ser agora que Ben Bernanke e sua equipe vão afundar o barco do Fed.
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