A economia americana cresceu menos que o esperado no primeiro trimestre. Mas o corte de gastos públicos foi maior que o previsto. O consumo das famílias sustentou o crescimento, mas elas queimaram poupança. O PIB do ano deve ficar abaixo de 3%, mas o déficit fiscal pode voltar para 5%. Os sinais, ora positivos, ora negativos, mostram que a maior economia do mundo ainda balança em recuperação.
As previsões do mercado para o crescimento do PIB dos EUA no primeiro trimestre estavam em 3%, numa taxa anualizada, em comparação com o quarto trimestre. Deu 2,5% e isso frustrou expectativas. Mas, quando se olha por dentro dos números, descobre-se que a contração de gastos do governo foi mais intensa do que se esperava. O corte automático de despesas só deveria começar no dia primeiro de março, mas o governo Obama começou a fazer o ajuste no início do ano.
- Essa é uma notícia boa, porque significa que o corte de gastos ao longo do ano terá que ser menos intenso para se atingir o que foi acordado com o Congresso. Então dá uma folga ao governo para dosar o ajuste - explicou o economista Roberto Prado, do Itaú Unibanco.
Pelas contas da consultoria Capital Economics, os cortes do governo nos últimos seis meses tiveram a maior intensidade desde a retirada do país na Guerra da Coreia, nos anos 50. No quarto trimestre, houve retração de 7%, seguida por mais uma queda de 4,1%, no primeiro tri. Ao todo, calcula-se que o PIB ficou dois pontos percentuais menor por causa disso. Ainda assim, a economia cresceu. Prado explica que, ao contrário da Europa, os americanos estão conseguindo combinar taxas de crescimento com ajuste nas contas públicas.
- Essa é uma diferença grande entre os EUA e os países em crise na Europa. Os americanos fazem ajuste fiscal e crescem. Na Europa, os países em crise estão, na prática, fazendo contração fiscal e monetária. Os bancos da Espanha, por exemplo, acabam tendo que emprestar a juros mais altos porque os títulos do governo espanhol estão com taxas de risco maior. Na ponta, há um contágio - disse.
Tudo isso parece bom para os americanos, mas aí surgem os dados que lembram que o país continua em crise. Parte do crescimento aconteceu via recomposição de estoques da indústria, e o consumo só cresceu porque os americanos pouparam menos. E apesar de ter começado a cortar gastos antes do previsto, o ajuste do governo precisa continuar. Com estoques de volta a níveis normais e perspectiva de menos gastos do governo e das famílias, a tendência é que os investimentos também percam força.
- O PIB deve desacelerar nos próximos trimestres, para fechar no ano na casa de 2%. O aumento do consumo das famílias também aconteceu pela recuperação da bolsa, pagamento de dividendos e recuperação do preço dos imóveis. Mas são coisas pontuais, que não vão se repetir ao longo do ano - disse o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa.
O desemprego recuou para 7,6% em março, a menor taxa desde dezembro de 2008. Mas o que explica essa redução é o desalento dos americanos, ou seja, a perda de vontade de procurar emprego diante de um mercado de trabalho fraco. Essas pessoas, temporariamente, deixam a força de trabalho e não entram nas estatísticas. Desse modo, a taxa cai.
Estados Unidos e China começaram o ano crescendo menos do que se previa. Isso pode provocar novas revisões para baixo no crescimento da economia mundial este ano. Para o Brasil, isso é bom para a inflação, porque tira a pressão sobre o preço dos alimentos, mas é ruim para as nossas exportações e balança comercial, que até abril acumula um déficit de US$ 6,4 bilhões.
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