quinta-feira, maio 02, 2013

Os seguranças de Eduardo Campos - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 02/05

Há uma série de relatos sobre o quanto Yasser Arafat (1929 – 2004) era obcecado pela própria segurança. Um deles aponta que o homem tinha duas equipes de vigilância, distintas, desconfiadas uma da outra. O palestino aparece aqui por obra e graça de um interlocutor do governador Eduardo Campos, que aponta uma semelhança entre os personagens. Não do ponto de vista de atuação política, evidentemente, mas do lado comportamental. Algo para lá de específico: a relação com subordinados e correligionários. Desconfiado e disposto a avaliar várias opiniões, o pernambucano sempre trabalha com dois times, jogando em posições diferentes e com estratégias opostas.

Campos ouve argumentos de cada um dos grupos e, dali a pouco, sai com uma tática mista ou independente. Assim o político tem atuado no campo da marquetagem política. Ele atua com quatro especialistas em eleições, que são divididos em duas equipes. De um lado, Duda Mendonça e Antônio Lavareda. De outro, Edson Barbosa e Diego Brandy. O curioso é que, separados em duplas, os especialistas – os dois primeiros de cada time são marqueteiros propriamente e os outros, analistas de pesquisas – estão longe de serem amigos, mas topam trabalhar juntos para Campos. Sem ataques mútuos, pelo menos durante as missões eleitorais. Assim Campos se sente mais confortável, mesmo sendo pouco provável alguém acertar qual deles é o preferido. Depende da hora. Ou do tipo de trabalho.

Ontem, no interior pernambucano, Campos juntou duas frases de campanha, que virou o slogan “Quem viver verá, é possível fazer mais”. Em relação a outros discursos recentes, foi algo leve, uma pequena provocação com a guerra de declarações entre ele e a presidente Dilma Rousseff. Uma disputa deflagrada a partir dos motes “é possível fazer mais”, do candidato do PSB, e “é possível fazer cada vez mais”, da petista. Mais uma vez, um Campos de discurso leve, ainda mais por ter sido feito em Caruaru – a 130km do Recife —, distante de São Paulo, onde a Força Sindical organizou o Dia do Trabalho, um evento oposicionista.

Eventos

O discurso e a recusa em participar do ato panfletário promovido pelo deputado federal Paulinho da Força (PDT) – o homem dos incríveis 38.750 votos (0,63%) nas últimas eleições de São Paulo – são movimentos calculados de Campos. O governador acredita que é o momento de se recolher, até marcando posição em eventos políticos, mas evitando as manchetes dos jornais. Um jogo de morde e assopra. Qual dos assessores – Duda, Lavareda, Barbosa ou Diego – aconselhou o governador a recuar nas críticas diretas ao Planalto? Pouco importa, talvez até seja um consenso da equipe. O fato é que Campos decidiu interromper o período de alta visibilidade.

No início da semana, ao falar de Dilma, o governador foi no mesmo tom: “É muito importante que o PSB e a presidenta falem na mesma linha. É bom que a gente tenha produzido esse debate para que todos possamos ter a clareza de que tem muito mais por ser feito do que fizemos”. Quando ele vai voltar ao enfrentamento é uma pergunta que apenas Campos sabe a resposta, por mais que visibilidade esteja diretamente relacionada a discursos enfáticos ou até agressivos. Daqui até o final do ano — ou pelo menos até outubro —, a equipe de Campos vai tentar dosar as declarações do governador.

É até provável que a tal campanha antecipada se torne um pouco chata. Afinal, as equipes de marquetagem do governador pretendem adiar até onde puderem o anúncio oficial da candidatura. Como o Planalto se mostra refém do jogo do pernambucano — e não consegue expulsar o PSB dos cargos federais —, a estratégia de Campos deve durar por mais um tempo. Oficialmente, o registro de candidaturas vai até o início de julho do próximo ano.

Em 120 caracteres

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