O Estado de S.Paulo - 21/05
Nas disputas presidenciais de 2002, 2006 e 2010, o PSDB acumulou uma fieira de derrotas eleitorais e, já não bastasse, políticas. Aquelas talvez tenham sido inevitáveis, primeiro, diante do carisma avassalador de Lula, depois, em razão dos ventos favoráveis da economia que lhe permitiram investir pesadamente no social e, graças a isso, eleger o "poste" Dilma Rousseff. Mas, por seus fracassos políticos, o PSDB só tem a si mesmo para culpar. Sujeitando-se a dançar conforme a música lulista, com a sua ensurdecedora percussão contra o que teriam sido os governos neoliberais de Fernando Henrique, os tucanos se recusaram a assumir o legado de oito anos de notáveis transformações na vida brasileira.
Ora mais, ora menos, as campanhas de José Serra (duas vezes) e Geraldo Alckmin guardaram oportunística distância das políticas do ex-presidente e como que lhe pediram o grande favor de não aparecer nos seus horários de propaganda. Essa escolha pusilânime e, afinal de contas, fútil desfigurou o partido a ponto de, passados os ciclos sucessórios, se reduzir a um simulacro de oposição. Com isso, o PT ficou praticamente sozinho em cena: há anos que, na esmagadora maioria das ocasiões, o PSDB só é notícia por causa das desavenças entre os seus líderes e respectivas patotas. Mas alguma coisa pode ter começado a mudar desde a convenção de sábado que elegeu o senador mineiro Aécio Neves presidente da legenda.
O seu quase certo candidato ao Planalto no ano que vem deu o primeiro passo para a reconstrução da identidade tucana. "Erramos por não termos defendido, juntos, todo o partido, com vigor e convicção devidos, a grande obra realizada pelo PSDB", escreveu em carta aberta aos correligionários. No discurso de posse, foi ainda mais direto. "(Somos) o partido das privatizações que tão bem fizeram ao Brasil", afirmou, dirigindo-se a Fernando Henrique. "Somos o partido da Lei de Responsabilidade Fiscal. Somos o partido que permitiu que milhões de brasileiros voltassem a consumir", enumerou. O tempo - e não será tanto tempo assim - dirá se a fala representa um novo começo para fixar a posição da sigla no debate público nacional ou apenas uma exortação retórica para o seu público interno.
A dúvida tem razão de ser. Não faltaram comentaristas a elogiar Aécio pelo tributo prestado ao ex-presidente, apressando-se porém a considerar contraproducente a evocação do passado em face de uma candidata à reeleição com a popularidade nas nuvens e tida como franca favorita a levar a melhor já no primeiro turno. Quantos eleitores cuja vida melhorou nos últimos 10 anos, pergunta-se, deixarão de votar em Dilma, preferindo Aécio, porque a estabilidade econômica da era FHC é que tornou possível a melhora? Se, no correr da campanha, os tucanos sucumbirem a essa lógica, reproduzindo o erro humilhante das disputas anteriores, as palavras do político mineiro nem sequer merecerão uma nota de rodapé na crônica do partido.
Mas não há por que reincidirem. Em primeiro lugar, nada garante, nem poderia garantir, que a dianteira da presidente nas sondagens se mantenha intacta daqui a 17 meses, poupando-a dos riscos de um confronto direto com Aécio na rodada final. (É altamente improvável o cenário de um tira-teima entre Dilma e Eduardo Campos, do PSB, ou Marina Silva, da Rede Sustentabilidade, a se confirmarem as suas candidaturas.) E se o PSDB tiver uma fisionomia inequívoca a mostrar ao eleitor será um ganho, não uma perda, para o seu candidato. Seja lá o que tenha motivado o comentário do governador petista do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, ele está certo ao dizer que, depois do pronunciamento de Aécio, "a disputa terá mais conteúdo". Não é bem o que Dilma e o seu mentor Lula devem querer.
Em segundo lugar, bem feitas as contas, o PSDB não tem escolha - isto é, se pretende se manter na linha de frente da política nacional. O seu futuro não estará exclusivamente nas urnas de 2014. Mesmo na hipótese de derrota, o seu patrimônio para novos embates eleitorais só crescerá se tiver assumido com clareza as suas verdades. A demanda da sociedade por uma oposição consistente à hegemonia petista não pode ser subestimada.
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