Dentro desse contexto, a cena de ontem, na Arena Pernambuco, se encaixa. Era de se esperar a cordialidade entre a presidente Dilma Rousseff e o governador Eduardo Campos, que inclusive fez questão de citar e agradecer os investimentos do governo federal no estado. Dilma é popular e ele, salvo nos momentos em que segue vestido de quase-candidato, é aliado de todas as horas do governo petista, seja nas alegrias da reeleição de Lula e da eleição de Dilma, ou na tristeza do episódio do mensalão.
Quem conhece o governador, entretanto, garante que os planos de carreira-solo não foram abandonados. O fato de ter ficado mais recolhido nos últimos dias faz parte do script. Afinal, há um estado para administrar e quando se sai demais, logo surgem as críticas de abandono do serviço para fazer campanha. Hoje, ele fará nova investida na reunião com 500 deputados estaduais reunidos em Recife para o encontro da União Nacional das Assembleias Legislativas Estaduais (Unale).
Ontem, entretanto, a festa foi de Dilma, que tinha ao lado apoiadores que estão com ela e não abrem. Na entrega do navio Zumbi dos Palmares, por exemplo, os gestos davam a medida dos apoios. À direita de Dilma, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e o senador Humberto Costa (PT-PE). Do lado de Eduardo, a esposa, Renata Campos, e o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho.
A presença de Renan foi emblemática, no sentido de cristalizar o PMDB como aliado de primeira hora da reeleição. Embora insista em fazer as coisas do seu jeito e tente “dobrar” a presidente, os peemedebistas seguem com ela e estavam lá para demonstrar esse apoio. Nunca é demais lembrar que o partido em Pernambuco é representado pelo senador Jarbas Vasconcelos, da oposição. O PMDB, entretanto, é um dos poucos que não está no jogo do “enrola-enrola”, uma vez que tem a vice-presidência da República. Outro partido fechado desde já com a presidente é o PCdoB, que espera obter apoio do PT para projetos estaduais, ocupando o lugar que hoje é do PSB. O PCdoB, entretanto, esquece que, se Dilma for seguir os partidos por ordem de tamanho, o PSD de Gilberto Kassab está à frente na fila, embora seja recém-chegado à base do governo petista.
Enquanto isso, nos demais partidos…
A outra turma a cada dia dá um passo para um lado. O PDT, ao mesmo tempo que conversa com Eduardo Campos, faz juras de amor à presidente da República. PR, PP e PTB também estão “na muda” no que se refere a campanhas eleitorais. Afinal, todos aguardam para ver como será a vida de Dilma até o próximo carnaval, especialmente diante das incertezas que ainda persistem na economia.
Nessa onda da incerteza é que surfa Eduardo Campos e chega Aécio Neves, que, agora, no papel de comandante do PSDB, agirá no sentido de atrair aliados do governo. Ele, entretanto, também corre o risco de perder, uma vez que o ex-governador de São Paulo, José Serra, esteve na convenção do partido, o que foi visto como um gesto de apreço a Aécio e ao PSDB, mas não disse exatamente que caminho seguirá no que vem. Só sabe que será opositor à Dilma e que não delegou a ninguém a tarefa de falar por ele. Até aí, sem novidades.
Por falar em novidades…
Enquanto os políticos se movimentam para a eleição de 2014 num jogo de escamotear as reais intenções, a corrida às agências bancárias por causa dos boatos de fim do Bolsa Família nos dá a sensação de desconfiança nas instituições e na sustentabilidade do programa. O mais triste é saber que a nossa população ainda conta com um grande número de pessoas pobres sustentadas por programas sociais e a sensação de que jamais sairemos deles. Deixa clara ainda a desconfiança.
Interessante observar ainda a união dos políticos ao governo nos protestos contra a boataria. Até Anthony Garotinho e Eduardo Cunha, os arquiinimigos da semana passada, ontem estavam no mesmo lado, defendendo uma apuração rigorosa dos responsáveis. Esse tema e a ressaca política das votações da semana passada darão o tom dos próximos dias.
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