O Estado de S.Paulo - 28/05
As estimativas para o crescimento da economia brasileira no primeiro trimestre de 2013, em relação ao trimestre anterior, já estiveram em 1,5% e agora, às vésperas da divulgação do número oficial pelo IBGE, previsto para amanhã, recuaram para 0,8%. Pelas indicações conhecidas, no entanto, será mais surpreendente se o IBGE anunciar uma expansão trimestral abaixo do ponto mediano das estimativas - 0,6%, por exemplo - do que acima - em torno de 1,0%.
De todo modo, tudo indica que o ritmo do primeiro trimestre não se repetirá nos trimestres restantes do ano. Se só ficar na marca mediana de 0,8%, o avanço da economia, nos primeiros três meses do ano, alcançaria a taxa anualizada de 3,2%, acima do que, no momento, os especialistas esperam para o ano como um todo, que é algo entre 2,8% e 3,0%.
Nas planilhas dos analistas, o crescimento médio trimestral projetado para o resto de 2013 está variando entre 0,6% e 0,7%. É um sinal de que não são esperados grandes solavancos, para cima ou para baixo, daqui para a frente. Vistas de outro prisma, essas projeções, que se diferenciam por décimos ou centésimos, estão transmitindo a mensagem de que não se vislumbram, em prazos não muito curtos, maiores margens de manobra para a política econômica.
O que, de fato, vem caracterizando o jogo da economia brasileira em 2013 - e possivelmente se repetirá nos próximos dois ou três anos - é a existência de limites estreitos para a movimentação das peças no tabuleiro das ações econômicas. São variados os exemplos desses limites, mas basta verificar o que já ocorre com as contas externas para dimensionar o problema.
Está cada vez mais nítido que a trajetória no setor externo é de deterioração. A balança comercial exibe agora déficits desconhecidos há mais de uma década e poderá fechar o ano com resultados decepcionantes. Mesmo reconhecendo as fragilidades competitivas brasileiras, são variadas as indicações de que o movimento de desvalorização cambial ocorrido entre 2011 e 2012 foi rápido e acentuado o bastante para impactar os índices de inflação, mas não o suficiente para promover um reequilíbrio das contas externas.
Sabe-se faz tempo que um conjunto muito acima do normal de "trade offs" - a expressão do jargão dos economistas que designa escolhas conflitantes, em que a solução de um problema pode causar outro - havia se instalado na economia brasileira. As restrições a uma aplicação mais flexível da política cambial é um dos casos mais evidentes, embora nem de longe seja o único desses "trade offs". Eles também podem ser encontrados na política fiscal, que tende a ser expansionista para estimular a economia, mas, ao fazê-lo, pressiona a inflação e exige do Banco Central uma dosagem mais forte nos juros básicos, afetando o setor externo, via câmbio, e o crescimento, via aumento nos custos do crédito.
Por uma coincidência de calendário, a divulgação dos números do PIB do primeiro trimestre se dará no mesmo dia em que os diretores do Banco Central, reunidos no Comitê de Política Monetária (Copom), decidirão a nova taxa de juros pelos próximos 45 dias. Os analistas estão divididos entre um novo aumento de 0,25 ponto porcentual ou uma aceleração para 0,5 ponto, levando a taxa Selic de 7,5% ao ano para 7,75% ou 8,0%. Alguns acreditam que, qualquer que seja a escolha, como na reunião de abril, não será unânime - refletindo algumas dessas contradições.
Não há, infelizmente, solução única ou de curto prazo para tantos dilemas. Ainda mais em meio a um ambiente externo marcado por um renitente baixo crescimento - tendência à qual agora parece se juntar a China. Viver na corda bamba de escolhas conflitantes, em resumo, é o que nos espera por um certo tempo.
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