FOLHA DE SP - 18/05
SÃO PAULO - De modo geral, sou um otimista. Basta utilizar a lente dos séculos em vez da dos anos para constatar que melhoramos muito. Em 1900, que é um ontem em termos históricos, a expectativa de vida do brasileiro era de 33 anos e a renda per capita batia no equivalente a US$ 369. Hoje, esses números são respectivamente 74 e US$ 11 mil.
Basta, porém, avaliar o desempenho das administrações brasileiras dos últimos 30 anos para que o otimismo seja temperado por pitadas de pessimismo. Como a tendência é que as coisas sempre evoluam --apesar dos governos--, o melhor jeito de medir a performance é apanhar um problema concreto, cuja solução técnica é quase unânime, e ver o que foi feito. O resultado é desanimador.
Tomemos o caso dos portos. Desde que eu era um jovem jornalista, fala-se na urgência de aperfeiçoar a infraestrutura portuária. Praticamente todos concordam que é preciso ampliar a produtividade e baratear o frete das exportações. Também é quase consensual que o caminho para fazê-lo passa por eliminar privilégios e azeitar o setor com um pouco da saudável concorrência. Esse diagnóstico existe há 20 anos, mas os avanços foram mínimos. Tentou-se resolver agora em dois dias o que não se fez nas últimas duas décadas.
Situações semelhantes se verificam em vários outros campos. Na educação, até conseguimos oferecer escola para todos. O nível do ensino ministrado, porém, é assustadoramente ruim. A questão previdenciária também caminhou, mas muito menos do que seria necessário. E, dentro de um par de décadas, nosso bônus demográfico terá se esgotado, gerando sérias dificuldades para o sistema. Mais uma vez, teremos de fazer de afogadilho uma reforma que teria sido preferível conduzir de forma suave através dos anos.
A verdade é que, no que diz respeito a decisões estratégicas para o país, nossos últimos governos deixaram todos muito a desejar.
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