O rei Dionísio, contava Cícero, tinha uma espada presa no teto apenas por um fio. O artefato ficava exatamente sobre a cabeça do monarca, quando ele se encontrava em sua cadeira, na sala de banquetes. Certo dia, Dâmocles mencionou as maravilhas que era a vida do soberano, e recebeu como proposta a troca de lugar. Tudo correu bem, até a hora em que o cortesão percebeu a espada pendurada justamente sobre sua cabeça. Nunca mais quis saber de ser rei. Na atualidade, especialmente em Brasília, os políticos não se contentam mais em ter apenas uma espada sobre a cadeira presidencial. Dilma tem pelo menos três espadas e muitos canivetes posicionados no teto, em sua direção, a maioria colocada ali em intrincadas manobras políticas promovidas por seus aliados.
Aqueles que se dispuseram a ajudá-la a governar são os que mais se dedicam a essas artimanhas. A última foi o pedido de criação da CPI da Petrobras. A proposta partiu do deputado Leonardo Quintão, de Minas Gerais. “Sou base do governo e esse pedido vem para alertar os pequenos acionistas dos negócios que a Petrobras está empreendendo por aí. Quero ajudar o governo com essa investigação. Não é contra o governo. É em defesa do aposentado, da professora, do cidadão comum que comprou ações da Petrobras e agora a empresa se prepara para vender seu patrimônio a preços inferiores aos da aquisição”, diz o peemedebista (mais uma vez, o PMDB!).
Quintão contou com a ajuda dos deputados Carlos Magno (PP-RO) e de Maurício Quintela (PR-AL). A causa vale uma lupa. A refinaria de Pasadena, no Texas, foi adquirida por mais de US$ 1 bilhão quando Dilma era ministra e presidia o Conselho da empresa. “Não estou contra a presidente, quero ajudá-la”, manifesta Quintão, de forma bem direta. “O governo precisa investigar isso. Como não faz, o Congresso precisa cumprir seu papel. Quem quiser vender o patrimônio da Petrobras, é bom que pare com isso já. Afinal, querem vender barato e, daqui alguns anos, aposto que os compradores venderão por muito mais”, afirma ele, jurando que sua ação é em defesa dos acionistas da empresa.
Pode ser que ele tenha razão. Afinal, não podemos duvidar das boas intenções das excelências quando ditas com tanta convicção. Mas, quer o deputado queira, quer não, o pedido de CPI transformar-se em mais uma espada sobre a cabeça de Dilma. Tanto é que a área política do governo entrou em campo para evitar que essa CPI prospere. E, assim, além de devedora do presidente do Senado, Renan Calheiros, por conta da aprovação da MP dos Portos em tempo recorde, Dilma ficará em débito com o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).
Pode ser que não seja jogo combinado. Mas é coincidência demais essa disposição do tabuleiro de modo a deixar Dilma devedora tanto de Renan quanto de Henrique. E o meio campo que distribuiu esse jogo foi justamente o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), personagem de quem já falamos aqui.
Cunha, no papel de líder, ajudou seu partido a pendurar as várias espadas. Além da CPI, está sobre a testa de Dilma o Orçamento impositivo para as emendas dos parlamentares e a redução da dívida dos estados. No geral, o que está acontecendo é que o PMDB dá espada e os outros põem a escada, para ajudar os peemedebistas a posicioná-las exatamente sobre o governo Dilma.
Enquanto isso, no Planalto…
Assim como Dionísio, Dilma sabe da existência dessas espadas presas por um fio. São os riscos inerentes ao cargo. A presidente, entretanto, conta hoje com uma redoma que parece impermeável, capaz de evitar danos por qualquer espada que seja colocada ali pelos congressistas. São os índices de aprovação. Nesse sentido, ela se volta cada vez mais para agendas externas, entrega de ambulâncias, casas populares, escolas. Dialoga diretamente com a população, como fazia Lula. E isso não vai mudar.
Quanto à CPI, o Planalto acredita que não há perigo iminente. Até porque essa é a 23ª da fila e há apenas mais três vagas para instalar essas comissões. Ou seja, se chegar a ser instalada, só na temporada pós-eleitoral de 2014. A não ser, é claro, que os autores do pedido decidam apresentar um projeto de resolução para que esse tema seja analisado em plenário. Ainda assim, colocar o pedido em pauta no plenário dependerá de Henrique, a quem Dilma ficará devendo essa. Mas essa é outra história.
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