FOLHA DE SP - 24/05
A continuar neste andor, a prefeitura de Fernando Haddad será para sempre ligada à palavra 'inércia'
Continuo aqui falando para as paredes e o pessoal segue sem dar a mínima. E a cada semana que passa a polarização aumenta.
A presidente Dilma manda seu boneco de ventríloquo, Celso Amorim (tão pequenino que dá para sentá-lo no colo e manipular sua cabecinha, uma graça, não?) garantir que ninguém irá tripudiar sobre a decisão derradeira do STF, de 2010, que decidiu manter a Lei da Anistia intocada. Mas alguém duvida que a presidente não esteja doidinha pra ver a Comissão da Verdade bagunçar tudo?
É justo e necessário, do ponto de vista histórico e emocional, para as famílias das vítimas e para nossa memória, que se reconstituam os fatos. Mas daí a rever o que já foi sacramentado e funciona dentro do limite do possível já são outros 450.
Há mais benefícios ou perdas a serem computados naquilo que propõe a Comissão da Verdade, neste momento em que o país passa por um delicado confronto ideológico, que só pode acabar servindo a uma oposição humilhada por uma derrota atrás da outra que, no afã de eleger José Serra a qualquer custo, entregou-se aos braços do que há de mais atrasado no que diz respeito ao conservadorismo da elite tapuia?
Será que o embate só terá fim quando a cabeça de Lula, Zé Dirceu, Aécio ou Eduardo Campos for apresentada em banquete sobre uma bandeja carregada por uma rebolante Salomé?
E que contribuição para equilibrar e elevar a conversa tem prestado Fernando Haddad, que deveria ser um expoente de seu partido, mas, até agora, se revelou um zero a esquerda (o trocadilho cai de letra)? Pois é, parece que o prefeito de São Paulo se contentou em trocar o papel de gestor por aquele de líder de torcida em dia de Fla-Flu. Sinal de sua colossal falta de sensibilidade foi um dos primeiros gestos simbólicos, o de endossar com entusiasmo a lei que muda o nome de vias públicas que tenham sido batizadas com nomes de militares aqueles que violaram direitos humanos durante o regime militar.
Ora, ora. Se tem uma coisa que paulistano odeia é vereador que dá nome a rua. Trata-se do símbolo máximo do descaso da Câmara com a cidade, de perder tempo com aquilo que não é prioridade.
Iluminação, limpeza, pavimentação, dedetização de mosquito, poda em praça, melhora na coleta de lixo, nem aos menos nas ações mais prosaicas o paulistano viu qualquer melhora nestes primeiros meses de Haddad na prefeitura.
Agora vem esse aumento da tarifa de ônibus inferior ao esperado e o prefeito anuncia como vitória e forma de "ajudar no desenvolvimento do país" por ser medida que serve para conter a inflação.
Alô, Fernando Haddad! O paulistano não é mané. Sua medida é um modo de maquiar índices da inflação e iludir. A Petrobras vende gasolina mais barata do que custa para produzir. Esse nabo sempre sobra para a gente. E sua gracinha com a tarifa significa subsidiar empresas de transporte em R$ 1,25 bilhão em vez dos R$ 660 milhões previstos, comprometendo Orçamento e renegociação da dívida da prefeitura.
Prefeitura, diga-se, cujo secretariado é composto por um saco de gatos que vai desde os apadrinhados daquele que contraiu boa parte desse ônus monumental, ou seja, Maluf, até a turma do PC do B. Como essa gente interage?
É cedo para previsões, mas se tivesse de apostar um picolé de limão sobre um termo para definir a prefeitura de Haddad, eu diria que ele será... "inércia".
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