CORREIO BRAZILIENSE - 14/04
O PMDB nunca foi tão feliz. Pelo menos, no que se refere a atendimento por parte do governo. A cada semana, tem um ministro na Câmara, instalado na sala de reuniões da liderança do PMDB, dedicado especialmente a ouvir os pedidos dos parlamentares do partido. O primeiro foi o ministro da Agricultura, Antônio Andrade. Ninguém prestou muita atenção, porque, afinal, Andrade é do partido, deputado por Minas Gerais, estava “em casa”. A romaria começou a chamar a atenção na última quarta-feira, quando o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, passou duas horas e meia dedicado aos peemedebistas. “Sou uma UPA móvel”, brincou Padilha, referindo-se à sigla das Unidades de Pronto Atendimento.
Padilha atendeu pelo menos 50 parlamentares. Chegou ao PMDB no início da noite e saiu já passava das 21h. Na sala do líder, os deputados esperavam a sua vez de conversar com Padilha, já separando as emendas que querem ver atendidas. A próxima a fazer esse périplo no partido deve ser a ministra do Desenvolvimento Social, Teresa Campelo. “É muito mais fácil assim. Em pouco tempo, o ministro consegue atender vários parlamentares”, dizia o deputado Júnior Coimbra.
Essa romaria ao PMDB é inédita como prática de gestão. No governo Fernando Henrique Cardoso, os ministros sempre atendiam na Liderança do Governo na Câmara. E, invariavelmente, esse atendimento individual coincidia com a data de alguma votação importante para o projeto do presidente da República. No governo Lula, a tradição de ministro despachar na liderança se manteve, mas não era tão comum quanto no antecessor. As conversas se davam mais nos jantares.
Enquanto isso, nos demais…
O convite aos ministros partiu do líder, Eduardo Cunha, do Rio de Janeiro, como forma de tentar estreitar o relacionamento da bancada com o governo do qual o partido é associado. E o pronto atendimento por parte do Executivo deixa clara a prioridade que a presidente Dilma Rousseff e sua equipe pretendem dar ao PMDB, o único partido hoje “amarrado” ao projeto da reeleição dela, junto com o PT.
O PMDB não tem escolha. O fato de ter seu presidente licenciado, Michel Temer, como vice-presidente da República fecha as portas a projetos alternativos para 2014. O máximo que os peemedebistas tentarão até lá é obter o poio do PT a projetos estaduais estratégicos para o partido, caso do Rio de Janeiro. O Planalto registrou o recado de Sérgio Cabral, publicado esta semana pelo Panorama Político do jornal O Globo, onde o governador pede que tenha a primazia de fazer o sucessor, assim como Lula teve para eleger Dilma Rousseff com o apoio do PMDB. Mais claro do que isso, impossível. Resta saber se Lula intervirá para tirar Lindbergh Farias do campo ou se deixará o barco correr. Até aqui, nada foi feito.
Enquanto o PMDB força a porta para seus candidatos a governador, os demais partidos aliados do governo colocam um pé em cada canoa. Talvez, o maior aliado de Dilma hoje, depois do PMDB, obviamente, seja o PSD de Gilberto Kassab, que a conta-gotas, vai levando seus diretórios estaduais ao apoio a Dilma. O PSD ainda não marcou visitas de ministros a seus parlamentares e ali há quem considere que não seria de bom tom, uma vez que o partido se declarou independente do governo. Mas, certamente, começará agora uma pressão de outros partidos para que os ministros repitam o procedimento com suas respectivas bancadas. O problema é que, hoje, os demais não estão assim tão fechados com a presidente quanto está o PMDB.
… e nas votações…
Esse tipo de relacionamento onde o ministro vai à liderança anotar os pedidos é a prova mais cabal de que a política consiste num jogo de toma-lá-dá-cá, onde os deputados terminam transformados em despachantes dos pedidos das prefeituras municipais. Sendo assim, sobra pouco tempo para cuidar dos temas para os quais foram eleitos, tornar a legislação mais ágil e fiscalizar as ações do Poder Executivo. Vira tudo meio “brother”, “parceiro”. Se a relação seguir nessa batida, não terá oposicionista capaz de acabar com essa irmandade.
Esse modelo no qual o ministro vai aos partidos anotar pedidos é a prova mais cabal de que a política consiste num jogo de toma-lá-dá-cá em que os deputados terminam transformados
em despachantes das prefeituras municipais
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