FOLHA DE SP - 14/04
Meta do Brasil é crescer como a China até o bicentenário da Independência, sugere Dilma em campanha
QUAL É o nosso objetivo? Nosso, dos brasileiros, deste país? Se perguntarem a Dilma Rousseff, ela dirá que é dobrar a nossa renda per capita. Foi o que a presidente contou na sexta-feira, quando entregava um kit (sic) de motoniveladoras, retroescavadeiras e caminhões-caçamba para prefeitos gaúchos.
Quando a renda média terá dobrado? Como a presidente usa o método confuso de discursar, ficou meio difícil de saber (leia a transcrição oficial do discurso no final desta coluna). Parece que a nossa meta é dobrar a renda per capita até 2022, quando o Grito do Ipiranga de Pedro 1º faz 200 anos.
É fácil ver que isso não faz o menor sentido. Seria necessário que a economia brasileira crescesse ao ritmo de quase 9% ao ano para que a nossa renda média dobrasse até 2012, dadas as estimativas de aumento da população até lá e o fato de que o PIB deste terceiro ano de Dilma vai crescer uns 3%.
O Brasil precisaria, pois, crescer tanto quanto a China a partir do ano que vem e continuar nessa toada até 2022. Mas este país jamais cresceu tão rápido assim numa década. Passou raspando nos dez anos contados até 1976, quando a renda per capita crescera 87,5%, depois de anos de "milagre econômico". Milagre, ressalte-se.
Para insistir uma última vez na aritmética do devaneio, a renda média do Brasil deveria crescer entre 7,5% e 8% ao ano. No governo Lula, cresceu em média 2,8% ao ano. Sob Dilma, menos ainda.
Países de renda média, tal como o Brasil, não crescem a 8% ao ano por uma década. É mais fácil acelerar quando se é mais pobre. Mesmo na Coreia do Sul, um caso de sucesso extraordinário, o crescimento da renda per capita desceu a ainda excepcionais 5% ao ano quando os coreanos andavam com a mesma renda média do Brasil de hoje.
Porém, saímos da picuinha aritmética para um absurdo socioeconômico quando nos comparamos à Coréia do Sul. Os motivos do crescimento econômico ainda são meio misteriosos, mas sabe-se mais ou menos o que não dá certo.
O governo do Brasil paga os juros mais altos do mundo sobre uma dívida que não vale tal pena: que não dá retorno. Numa lista de 137 países, em 2010 o Brasil aparecia em 84º no que diz respeito aos anos de estudo de maiores de 25 anos. Estamos entre os dez países mais desiguais. Somos um dos mais violentos do mundo (em homicídios).
O disparate maior da meta "o dobro em uma década" é enfim político. Qual o programa para, numa década, darmos cabo das nossas maiores aberrações? Não há.
Não é possível que Dilma acredite nessa história da dobradinha numa década. Isso é conversa de campanha eleitoral. Mas vai ser ruim assim a sua propaganda?
Enfim, o discurso de Dilma: "Daqui a alguns anos nós comemoraremos os 200 anos da nossa independência. E nesse dia nós vamos ter que olhar para trás e ver o que fizemos para construir a nossa soberania, o nosso desenvolvimento e o bem-estar do nosso povo. E aí, se vocês perguntarem para mim: qual é o nosso objetivo? O nosso objetivo é dobrar a nossa renda per capita. É esse o objetivo deste país. Ele se mede, fundamentalmente, pela renda per capita da nossa população. É essa a medida e o metro que nós devemos usar".
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