A economia enfrenta sério problema de baixo crescimento e inflação acima do centro da meta. Isso pode ameaçar o bom nível de emprego e de salários, que são importantes fatores para sustentar o consumo.
Isso está criando uma profusão de avaliações sobre possíveis saídas dessa situação. Entre elas ganhou destaque, nas últimas semanas, boatos de que o Banco Central (BC), para conter a inflação, que poderá romper o teto da meta, irá retomar uma seqüência de elevações da Selic, pois a causa da inflação seria o excesso da demanda diante da oferta, sendo necessário conter o consumo, freando a economia. Alguns explicitavam com mais clareza que era necessário reduzir o nível de emprego para conter salários.
Diante disso, a presidente Dilma Rousseff concedeu, no final de março, uma entrevista à imprensa, em Durban, na África do Sul, em que afirmou: "Eu não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a redução do crescimento econômico. Até porque temos a contraprova dada pela realidade: tivemos um baixo crescimento no ano passado e houve um aumento de inflação porque teve um choque de oferta devido à crise, e um dos fatores é externo. Não tem nada que possamos fazer a não ser expandir a nossa produção para conter o aumento dos preços das commodities derivado da quebra de safra nos Estados Unidos."
Após essas declarações o mercado financeiro entendeu que será mais difícil o BC satisfazer seus interesses elevando a Selic.
Há uma crença muito difundida de que essa elevação pode reduzir o crescimento e conter a inflação. Discordo. O efeito de um aumento da Selic para 7,5% ou 8,5%, conforme as previsões do mercado financeiro, em nada irá mexer no crescimento e muito menos na inflação.
Evolução. No passado, quando a Selic era mais elevada, servia como instrumento único do BC para controlar a inflação, pois atraía dólares em busca de ganhos financeiros. Com isso manteve-se o real apreciado tornando barato o produto importado, o que servia como limitante aos preços internos (âncora cambial), que foi o que sustentou o Plano Real, conjugada com uma redução brusca nas alíquotas de importação nos primeiros meses desse plano.
O quadro apresenta a evolução ocorrida com a Selic média anual nas diversas gestões de presidentes do BC, que gozaram de liberdade para arbitrar o valor da Selic.
Nova política. Com o governo atual ocorreu nova política de controle da inflação, com centralização na presidente, comandando a equipe econômica formada pelo presidente do BC e ministro da Fazenda.
Os preços evoluem dependendo de vários fatores, entre eles os preços administrados pelo governo, como no caso dos combustíveis e da energia. É a forma do governo contribuir na parte que lhe cabe, para segurar os preços que pode arbitrar. Caso não tivesse feito isso a inflação já teria ultrapassado o teto de 6,5%.
Inflação. No primeiro quadrimestre de cada ano ocorre forte
pressão para o BC elevar a Selic, pois há uma sazonalidade inflacionária de cerca de 40% do IPCA, marcada por reajustes de preços procurando compensar a inflação ocorrida nos últimos doze meses.
E o que ocorre nos reajustes do IPTU, IPVA, despesas escolares, tarifas de ônibus (postergadas em parte a pedido do governo) e contratos que usam o ano calendário como base de atualização. Neste ano o problema se agravou pela inflação de alimentos, responsável por parte importante da composição do IPCA.
A perspectiva inflacionária não me parece preocupante. A boa safra de alimentos, que começará a se fazer sentir, poderá reduzir o surto de preços ocorrido nos últimos meses e, na parte da inflação externa, o índice de Commodities Brasil (IC-Br), do BC, recuou pelo terceiro mês seguido com variação negativa de 6,1% desde janeiro.
O governo já anunciou que virão novas desonerações reduzindo custos nos planos de saúde e no transporte coletivo e, deixa entrever que não irá parar por aí. Além disso, cessam os efeitos j dos reajustes sazonais acima : apontados.
Nesse sentido é correta a decisão do BC de decidir com cautela, não se precipitando, tendo que depois voltar atrás, caso ceda à pressão do mercado financeiro para elevar a Selic.
Crescimento. É o verdadeiro calcanhar de Aquiles do governo. Colheu apenas 1,8% médio de crescimento anual nos últimos dois anos e, sofre com perspectivas sombrias para este ano.
Essa é a ameaça aos altos índices de popularidade da presidente.
Mas o que fazer? Esperar que os investimentos privados floresçam? Apostar no crescimento dos seus próprios investimentos? Não creio. Embora essenciais, os impactos levariam alguns anos para ocorrer e o desafio se coloca para o curto prazo.
E, aí só vejo um caminho: a) estimular o consumo pela redução do arrocho imposto pelas al: tas taxas de juros bancárias e pela desoneração dos bens e serviços de maior consumo popular e; b) estimular a oferta interna pelo posicionamento do câmbio próximo a R$ 2,50 por dólar.
O governo já obteve relativo sucesso ao derrubar os juros na Caixa Econômica Federal e no Banco do Brasil, mas resta muito a ser derrubado nos bancos privados e, o governo tem instrumentos para seguir aliviando o peso do sistema financeiro sobre a sociedade.
Quanto ao câmbio o real se encontra apreciado, fazendo com que a expansão do consumo esteja sendo atendida principalmente pela importação. O resultado deste primeiro trimestre na balança comercial (exportação menos importação) foi de um déficit de US$ 5,2 bilhões (!). Isso acendeu a luz amarela ao governo. Se não ocorrer a desvalorização cambial, como estão fazendo os Estados Unidos, Europa, Japão e China, o rombo externo vai crescer e não será mais financiado pelo ingresso do investimento direto de estrangeiro (IDE).
Vale lembrar que para o equilíbrio das contas externas será necessário posicionar o câmbio mais próximo de R$ 3, pois no período de 2003/2007 em que essas contas foram superavitárias, o câmbio em valores atuais esteve em R$ 3,80.
Como o governo acredita que o câmbio acima de R$ 2 irá gerar inflação, e o momento não é adequado para isso, a possibilidade de efetuar a desvalorização do real pode estar sendo deslocada para algum momento do segundo semestre. Vai nessa direção a redução do fluxo cambial comercial, onde o equilíbrio entre oferta e demanda pela divisa estrangeira mostra claros sinais. Neste primeiro trimestre o rombo nas contas externas alcançou US$ 18,0 bilhões crescendo 50% em relação a igual período de 2012.
Para desatar o nó da economia, o governo não pode esperar mais. É necessário reduzir os juros dos bancos privados e desvalorizar o real para a vizinhança de R$ 2,50 em algum momento do segundo semestre quando a inflação poderá estar arrefecida. E aguardar.
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