Os números preliminares do Produto Interno Bruto divulgados pelo IBGE, confirmando estatisticamente o fraco desempenho da economia brasileira em 2012, um crescimento de apenas 0,9%, deveriam servir para um profunda reflexão, se possível desapaixonada, para que se possa encontrar respostas adequadas a questões importantes para o presente e o futuro. O que teria acontecido para motivar tamanha retração nos investimentos?
O governo tinha um diagnóstico — e acreditou de fato nele — que o levou a estimular o consumo na expectativa de que os investimentos acabariam vindo a reboque. Não deu certo.
Ao longo de 2012, assim como já havia sido em 2011 e anos anteriores, o consumo das famílias permaneceu em ascensão enquanto os investimentos se retraiam (em 4%), uma aparente contradição. Mas a verdade é que o ambiente político e institucional esteve desfavorável aos investimentos nesse período. O intervencionismo governamental inadequado demonizou a presença de investimentos privados nas concessões relacionadas à infraestrutura. Em um setor tão emblemático para a economia brasileira como o do petróleo, o governo Lula deu vários passos atrás e a presidente Dilma, que se apresenta como uma continuidade do antecessor, demorou a reagir.
Depois de sete anos sem rodadas de licitação, o governo promete agora promover quatro, em diferentes modalidades, em 2013. A Petrobras, que estava ladeira abaixo (e os preços das suas ações na Bolsa são uma evidência que os investidores ainda se mantêm temerosos quanto à trajetória da empresa), devido ao aparelhismo político, está sendo sacudida, e, ao que parece, o governo desistiu da política de preços que sufocou financeiramente tanto a companhia como segmentos de biocombustíveis, especialmente o da agroindústria alcooleira.
Para financiar o investimento, o governo deu sinais que o BNDES exerceria esse papel recorrendo a empréstimos ilimitados do Tesouro, em uma situação preocupante. E pela dificuldade de conter seus gastos de custeio, o governo passou a lançar mão de uma “contabilidade criativa” para fechar as contas públicas dentro dos parâmetros assumidos na legislação de diretrizes orçamentárias, abusando da boa fé dos especialistas no tema.
Os dados do IBGE referentes à trajetória do PIB no quarto trimestre do ano passado captaram uma recuperação do investimento, após quatro resultados trimestrais negativos consecutivos. Talvez já signifique uma reação positiva ao anúncio da retomada dos processos de concessão nas áreas de infraestrutura, no cenário doméstico, e à sensação de que o pior da crise já teria passado lá fora. Esse quadro não descarta a reflexão aqui sugerida. O Brasil tem claras oportunidades e não pode desperdiçá-las por causa de decisões políticas equivocadas.
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