segunda-feira, fevereiro 25, 2013

Sementes do futuro - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 25/02

Por todo o Brasil, os prefeitos iniciantes arrumam a casa para mostrar serviço, enquanto os de segundo mandato tratam de organizar o jogo para a próxima eleição. Especialmente, nas capitais dos três maiores colégios eleitorais do país: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Desses três, o único estreante é Fernando Haddad, do PT de São Paulo. Saiu vitorioso logo na primeira eleição que disputou e para administrar o terceiro maior orçamento do país.

Obtive o privilégio de entrevistá-lo na semana passada (os principais trechos estão publicados na edição de ontem do Correio) e nos tempos em que era ministro da Educação. As diferenças entre o ministro e o prefeito são visíveis a olho nu.

O ministro Haddad não costumava discorrer com desenvoltura sobre os temas políticos. Qualquer comentário nessa seara vinha precedido de avaliações citando o ex-presidente Lula, que o levou para o governo e à candidatura a prefeito. Também sempre citava Dilma. Não havia uma definição pessoal de Haddad sobre a política pura e seus movimentos. A voz para discorrer sobre essas temas não era tão firme ou ligeira quanto era ao falar sobre educação.

A poucos dias de fechar seus primeiros dois meses de governo, o prefeito Haddad demonstra uma desenvoltura nessa área que chama a atenção. Dispensa a citação dos padrinhos para fazer avaliações do processo político. Especialmente, quando se refere a São Paulo.

Quando perguntado sobre a candidatura do senador Aloizio Mercadante ao governo do estado daqui a um ano e cinco meses, responde que o PT não trabalha com o conceito de fila. E que, se fosse assim, ele (Haddad) não teria sido candidato a prefeito de São Paulo. Epa! Olha só o potencial cabo eleitoral petista ao governo de São Paulo jogando uma pedra de influência na condução do processo! E espinhos no caminho de Mercadante.

Haddad não menciona, afinal, está no começo de sua gestão. Mas tem plena consciência de que sua performance enquanto prefeito funcionará como cartão de visitas para o candidato a governador, seja Mercadante, Alexandre Padilha (ministro da Saúde), Marta Suplicy (Cultura) ou José Eduardo Cardozo (Justiça). Afinal, foi assim que Haddad conduziu sua campanha no ano passado, dizendo que a cidade precisava desfrutar do estilo de governo Lula-Dilma. Para o bem ou para o mal, seu desempenho até outubro do ano que vem terá importância na briga com o PSDB pelo governo estadual.

Enquanto isso, para o futuro…

Mais do que a influência da gestão de Haddad na próxima eleição estadual — e também presidencial, por causa do tamanho da cidade de São Paulo — o que torna o prefeito paulistano um personagem a ser observado com bastante atenção é o gosto que ele tomou pela política. O professor da USP aprendeu muito rápido. Podem escrever: tanto ele quanto o prefeito do Rio, Eduardo Paes, do PMDB, estão na pista, em aquecimento para o futuro. Paes, reeleito, deve ficar até o fim do governo, para marcar sua vida política como o prefeito da Copa e das Olimpíadas do Rio.

Quanto ao prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, do PSB, há ainda um dilema a resolver: se ele ficará ao lado dos tucanos, ou abraçará a candidatura Eduardo Campos, caso o governador de Pernambuco seja mesmo candidato a presidente no ano que vem. Hoje, nada indica que Eduardo não será.

Eduardo está convencido de que, por ser um personagem fora do eixo Rio, São Paulo e Minas Gerais, tem que entrar logo na pista a fim de se consolidar como uma opção viável, nem que seja para 2018. Afinal, no triângulos dos votos, as opções começam a trabalhar, as sementes estão germinando. Se vão vingar, o futuro dirá.

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