segunda-feira, fevereiro 25, 2013

Jogo perigoso - JOSÉ MILTON DALLARI

O Globo - 25/02

Já é dado como certo que a inflação brasileira vai atingir um povo patamar este ano. Fechou 2012 em 5,84% e certamente ficará acima dos 6% em 2013, podendo até encostar no teto da meta estabelecida pelo Banco Central, de 6,5%. A alta dos preços fugiu das previsões mais otimistas feitas pelo Banco Central. E isso com vários aumentos sendo adiados para o fim do semestre, como a passagem dos transportes públicos em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro.

O número não assusta tanto em si. Sim, estamos longe dos tempos de hiperinflação quando os preços subiam 40% ou 50%. Mas o que está assustando é o grau de improviso nas medidas aleatórias implementadas.

Aparentemente, o Banco Central e o ministro Guido Mantega, da Fazenda, não têm falado a mesma língua. Enquanto o BC dá sinais de que busca um dólar mais fraco em relação ao real, para evitar que os produtos importados pesem sobre o índice, o ministro Mantega continua declarando que o dólar a R$ 2 veio para ficar. O real mais forte poderia baratear as importações melhorando os preços de alguns produtos no mercado interno. Mantega afirma que não usará o câmbio para conter pressões inflacionárias. Ele garante que o instrumento clássico de política monetária são os juros. Mesmo assim, o mercado vê o BC aceitando um câmbio abaixo de R$ 2 para evitar alta de preços.

Um dólar a R$ 2, um pouco mais ou um pouco menos, tem quase o mesmo efeito sobre os preços. O problema é que a moeda americana chegou a R$ 2,10, no fim de 2012, voltou para R$ 2,05 em janeiro, e neste início de fevereiro, bateu em R$ 1,95, a menor cotação desde maio do ano passado.

Essa foi a resposta do mercado para os desencontros entre Mantega e o BC. Como se sabe, são as oscilações bruscas do câmbio que atrapalham o empresário que faz planos ou até mesmo o viajante que está comprando dólares para suas viagens.

Não é sinal de equilíbrio um câmbio descer de R$ 2,10 para R$ 1,95 em pouco menos de dois meses.

Mesmo assim, o mercado já vê a possibilidade de uma elevação da taxa básica de juros, a Selic. Atualmente em 7,25%, seu menor patamar histórico, a Selic baixa é uma espécie de bandeira do governo de Dilma Rousseff contra juros escorchantes. Foi ela quem bancou a briga contra os bancos para que os juros do cheque especial, do cartão de crédito, dos empréstimos, fossem reduzidos para fazer a economia crescer em ritmo mais acelerado.

Dilma, e o BC, não cogitavam mexer na Selic pelo menos até dezembro. Quiçá, até 2014. Ou seja, pela provável falta de planejamento e improviso na condução da política monetária, talvez seja preciso esfriar a economia para conter a alta dos preços.

O Brasil começa 2013 com muitas interrogações. Não pode haver improvisos quando se trata de alta da inflação e ameaça ao crescimento econômico, pois, como o governo sabe, a inflação é o maior imposto a ser pago pelos pobres.

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