A principal mudança recente na balança comercial brasileira aconteceu no setor energético. É isso que explica o déficit de US$ 4 bi da balança em janeiro. Quatro dos 10 principais produtos importados em 2012 são matérias-primas energéticas. Petróleo lidera. Em pelo menos cinco itens a produção interna é menor que o consumo: óleo diesel, gasolina, gás natural, nafta, querosene de aviação.
Embora a balança comercial do petróleo - sem os derivados - seja positiva, ele é o item que lidera a lista, com US$ 13 bilhões importados em 2012. O óleo extraído no país, em sua maioria, é pesado. Isso obriga a Petrobras a comprar lá fora o produto leve, do qual se extrai mais gasolina.
O país passa por uma explosão do consumo de combustíveis fósseis. Para atender a essa demanda, o Brasil é grande importador de gasolina, diesel, querosene de aviação, nafta petroquímico e até mesmo etanol - disse Adriano Pires, diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura).
Dos 10 principais produtos importados em 2012, quatro são insumos energéticos. Depois do petróleo, vem o óleo combustível, em quarto lugar, com US$ 6,7 bilhões importados. Nafta petroquímico aparece em sétimo, com US$ 4,1 bi, e o gás natural surge em décimo, com US$ 3,3 bilhões. A gasolina vem galgando posições e já representa US$ 3 bilhões de importação.
Segundo levantamento do CBIE, feito com exclusividade para a coluna, de janeiro a novembro de 2012, último dado disponível pela ANP, a produção de óleo diesel foi de 41,5 milhões de metros cúbicos. Mas o consumo chegou a 50,9 milhões. Houve um gargalo de 9,4 milhões de m3 de diesel. Com o nafta petroquímico, usado na fabricação de plástico, aconteceu a mesma coisa: produção de 5,9 milhões contra consumo de 11,2 milhões. A produção de querosene de aviação foi 1,6 milhão de metros cúbicos menor que o consumo, de janeiro a novembro de 2012.
Desde janeiro de 2011, a produção de gasolina do país não consegue suprir a demanda. O gargalo ficou maior em 2012. A produção subiu 11%, mas o consumo cresceu 20%. Pela medida em metros cúbicos, a diferença entre a produção e o consumo subiu de 2,2 milhões, de janeiro a novembro de 2011, para 4,2 milhões, no mesmo período de 2012.
O baixo nível dos reservatórios de água das usinas hidrelétricas, que fecharam janeiro com o menor volume desde 2001, vai exigir maior importação de gás natural. Para poupar água, será preciso deixar ligadas as usinas termelétricas. Um exemplo está acontecendo com a usina de Uruguaiana, no Sul do país. O gás natural liquefeito (GNL) foi importado de Trininad e Tobago, transportado até a Argentina, e levado pelo gasoduto até a usina brasileira. No ano passado, o consumo de gás exigiu que fossem importados 1,2 milhão de metros cúbicos. A demanda por gás dessas usinas subiu 102% no quarto trimestre, segundo a Petrobras.
O governo fez grande uso político do fato de ter se atingido uma produção de petróleo suficiente para o consumo brasileiro. O país terá atingido então, garantiu o presidente Lula com as mãos sujas de petróleo e o macacão laranja da Petrobras, a mítica autossuficiência. A economia não respeita as simplificações do populismo político. Hoje, os derivados de petróleo são o grande peso nas importações, a insuficiência energética é uma realidade diária que bate no bolso do consumidor e do acionista da Petrobras.
A estatal tem inúmeras virtudes e ao longo do seu mais de meio século fez enormes contribuições à vida brasileira, desenvolvendo uma tecnologia de ponta, mas ela não pode ser apropriada por um governo como foi durante o período Lula. E as simplificações grosseiras, como a de que o governo de então teria feito a Petrobras mais forte e por isso ela teria atingido a autossuficiência, é desmentida pela realidade.
A empresa colhe hoje o preço da excessiva interferência política dos últimos 10 anos. Teve que fazer investimentos como o da Refinaria Abreu Lima, cujo custo deu um salto ornamental em relação ao preço previsto inicialmente, e tudo isso para refinar o petróleo da Venezuela. E esse não foi o único investimento caro e equivocado feito pela empresa. A balança comercial está mostrando a realidade: um país que depende, e muito, de vários insumos energéticos derivados do petróleo.
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