A economia brasileira crescerá 3,5% neste ano e 4% no próximo, acertando o passo com a economia mundial depois de dois anos desastrosos, mas o País continuará bem atrás de outros emergentes, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). Esses números foram apresentados em reunião ministerial do Grupo dos 20 (G-20) no último fim de semana, em Moscou. Nem autoridades de Brasília, apesar de inclinadas a bravatas, têm formulado publicamente previsões muito mais otimistas. Mesmo a expansão estimada para 2013 e 2014, embora modesta, dependerá de condições ainda incertas. Uma das mais importantes será uma rápida elevação do investimento em máquinas, equipamentos, instalações produtivas, estradas, portos e outros componentes da infraestrutura. Segundo o material preparado pelo Fundo para a reunião, o investimento realizado pelos emergentes - e isto inclui a América Latina - aumentou mais rapidamente que o Produto Interno Bruto (PIB) desde o começo da crise, em 2008, e assim deverá continuar pelo menos até 2016.
O ingresso de capitais estrangeiros tem ajudado os países da região a investir mais. Mas os grandes números escondem diferenças importantes. Se as cifras do Brasil fossem discriminadas, o País certamente apareceria mal na foto dos investimentos, apesar do ingresso ainda volumoso de recursos externos.
O FMI apresentou ao G-20 um documento sobre perspectivas econômicas e desafios e outro sobre investimentos e os recursos para financiá-los. No mundo rico, os mercados financeiros têm reagido, os maiores riscos de curto prazo foram superados e as políticas de ajuste avançam, mas os desafios de médio prazo permanecem, com algumas diferenças, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos e no Japão. Um dos grandes desafios comuns continua sendo a adoção de planos claros e confiáveis de consolidação fiscal.
As condições dos emergentes são variadas, mas pelo menos um desafio se impõe a todos ou quase todos: reconstruir o espaço fiscal. As finanças públicas foram afrouxadas em muitos países, no esforço para atenuar o impacto da crise internacional. A estratégia deu certo na maior parte dos casos. Mas é preciso recompor as contas públicas. Diante de novas emergências, os governos terão muito menos espaço para agir.
Os economistas do Fundo repetem essa recomendação há algum tempo e destacaram algumas indicações no documento. O governo russo continuará dispondo de recursos do petróleo, mas deveria cuidar de outras fontes. A índia precisa de uma "substancial reforma" para a consolidação fiscal a médio prazo. No caso do Brasil, a sugestão é continuar baseando a política nos esquemas atuais. Trata-se de uma óbvia referência ao sistema de metas desde 1999. Essa estratégia deu bons resultados, segundo a avaliação do Fundo, a tendência em Brasília, sabem os brasileiros, tem sido o afrouxamento dos critérios de superávit primário, de meta de inflação e de câmbio flutuante.
Mas os economistas do Fundo vão um pouco mais longe nas recomendações: com a recuperação da economia, as autoridades brasileiras deveriam começar a desfazer os estímulos monetários, para manter "as expectativas de inflação bem ancoradas".
Embora o documento sobre perspectivas globais tenha apenas dez páginas, há suficiente espaço para recomendações a todos os grupos de países. Nem as economias aparentemente bem comportadas, como a alemã, escapam de observações críticas - nesse caso, sobre a administração de sua demanda interna.
Para os economistas do Fundo e para sua diretora-gerente, Christine Lagarde, tem havido exagero na discussão sobre a chamada guerra cambial, assunto reavivado depois da recente desvalorização do iene. Mas o tema ganhou destaque na declaração final dos ministros do G-20: todos prometeram evitar o recurso a desvalorizações cambiais para tornar suas economias mais competitivas. Mas a promessa é vaga e nenhum grande banco central sujeitará sua política monetária a esse compromisso. Cuidar dos outros temas continua sendo muito mais produtivo.
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