CORREIO BRAZILIENSE - 23/02
Antecipar a campanha só interessa aos marqueteiros e, por tabela, aos próprios políticos. Pouco ou nada contribui para o debate sobre as mazelas nacionais. É só avaliar os discursos do governo e da oposição
É quase um acinte que, a mais de 18 meses das eleições, a cabeça dos políticos esteja voltada para outubro de 2014. Cada coisa com o próprio tempo, senhores, afinal o governo atual ainda tem muito chão a percorrer. E, de mais a mais, há assuntos urgentes a serem discutidos. Dito isso, a agenda eleitoral da semana se materializou de uma forma que a fez parecer forte. A marquetagem venceu e nos levou às urnas nos últimos sete dias. Fomos embalados por uma campanha antecipada. O ponto é que, por mais precoce, o tema parece inevitável pelo cenário inédito de 2014. Explico, pois.
Os quatro principais nomes para o Planalto estão postos, por mais que o quadro ainda não esteja montado por completo. E isso muda tudo — ou pelo menos difere de eleições passadas, como a de 1998, por exemplo. Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (Rede Sustentabilidade) são pré-candidatos de torcidas prontas a defendê-los. Estão ali, sempre a levantar bandeiras. Eduardo Campos (PSB) segue a mesma trilha, apesar de um ou outro discurso evasivo. E por mais que, a cada dia, pareça se envolver numa trama inevitável de campanha, estimulada por ele mesmo, diga-se.
Aqui, permita-me uma rápida pausa na política. Uma vez alguém disse que o brasileiro não gosta de esportes. Ele aprecia a competição, quer ganhar. Pronto. Assim torcíamos para carros de corrida porque um piloto nascido no Brasil vencia as provas. Isso também explica a razão de, a partir da década de 1990, o basquete perder não apenas nas quadras, mas no número de torcedores — o inverso ocorreu com o vôlei. Por sorte, o basquete tem recuperado público e, nos últimos anos, voltou a empolgar.
O mesmo se deu com o tênis, quando escolinhas se multiplicaram e, em seguida, minguaram depois do sucesso e da saída de cena de Gustavo Kuerten. Com eleição presidencial, a história deveria se repetir na cabeça dos políticos. Não por culpa do eleitor, mas da marquetagem. Se a disputa empolga as torcidas organizadas — não necessariamente a população em geral —, que se antecipe o jogo, diriam os marqueteiros. Vide o caso da blogueira cubana Yoani Sánchez, envolvida voluntariamente numa guerra vexaminosa entre petistas, tucanos e demistas. Torcida, doutor, quer jogo, mesmo uma partida amistosa. E nada como uma personagem internacional para dar mais visibilidade ao racha.
Interesses
Voltemos aos nossos pré-candidatos e aos temas de fato nacionais. Adiantar uma campanha só interessa aos marqueteiros e, por tabela, aos clientes. Pouco ou nada contribui para o debate sobre as mazelas de um país. Um exemplo está nos próprios discursos rasteiros, quando petistas e tucanos são incapazes de reconhecer avanços do adversário. Assim, antecipam uma campanha por antecipar. Testar forças ou mesmo discursos — ou até reagir de forma legítima —, nada além. Há uma perda substancial de energia e dinheiro com a preparação de palanques, festas e assessores para nada. Ou quase nada. É improvável que algum eleitor decida o voto ou mude de preferência agora com base nos discursos de ataques. Algo simplório, como “o meu é melhor do que o seu” não interessa ao eleitor, não agora.
Congresso
Existem outras dificuldades. Com a campanha na rua, aumentam as pressões sobre alianças e cargos, tanto na esfera federal quanto nas estaduais, o que aqui vale também para os oposicionistas ao Palácio do Planalto. O próprio Congresso, normalmente travado, tende a piorar com mais e mais negociações. Mas e daí, existe alguma solução de tal quadro mudar e o país seguir sem debates eleitorais nesse momento? Esqueça. Até porque o próprio palanque foi montado primeiramente pelos aliados de Dilma Rousseff, em alto e bom som, numa festa para comemorar os 10 anos do PT no poder. Uma festa com dois meses de atraso, mas que serviu para os governistas tirarem as atenções de Marina e do novo partido.
Por último, por mais que a campanha antecipada atrapalhe o próprio governo federal, Dilma não pode reclamar. Nos últimos dias, a presidente é que mais tem se aproveitado de eventos para soltar frases feitas, pensadas e repensadas pelo marqueteiro João Santana. Chegamos em 2014, pois.
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