CORREIO BRAZILIENSE - 23/01
Com o nome do vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, posto para ocupar o Ministério da Micro e Pequena Empresa, o PSD considera entregar à presidente Dilma Rousseff a maior prova de amor que poderia dar. E sob vários aspectos. O primeiro deles é o afastamento quase que definitivo entre o partido de Gilberto Kassab e o PSDB. Brinca-se entre os integrantes do PSD que o símbolo da legenda será o gavião, ou carcará, que dia desses pousou na janela do secretaria-geral do partido. A ave considera os tucanos e seus bicos coloridos uma refeição e tanto.
O afastamento entre PSDB e PSD só não é definitivo porque em política “nunca” e “sempre” são palavras fora do dicionário. Além disso, se assumir o governo Dilma, Afif, em caso de viagens internacionais do governador, teria que se licenciar do ministério para assumir o comando de São Paulo por poucos dias — isso, óbvio, se prevalecer a tese do PSD de que o ministério não inviabiliza a vice-governança, algo que os tucanos têm dúvidas.
Interpretações jurídicas à parte, o PSD vê tanta simbologia em oferecer o nome de Afif que se mostra disposto a apostar e, se for o caso de uma viagem internacional do governador Geraldo Alckmin, ver como é que fica. O primeiro símbolo é mostrar a Dilma que a ida para o governo dela agora não é apenas para esses dois anos, mas inclui o projeto de 2014 em prol da reeleição. O PSD não enxerga ainda um adversário à altura da preferência que o eleitorado tem hoje por Dilma. Não acha que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) ou o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), tenham se movimentado suficientemente até aqui para empolgar a população. Portanto, no horizonte de hoje, o caminho do PSD é se aliar a Dilma e, assim, se arrumar para 2018.
Uma nomeação de Afif deixa explícito que, no plano estadual paulista no ano que vem, a ideia do PSD é seguir longe do projeto de reeleger Geraldo Alckmin. O atual governador deu várias demonstrações de desprestígio a Afif, como, por exemplo, a saída dele da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, um sinal de desconsideração. Agora, diante da aproximação entre Afif e Dilma, Alckmin tenta consertar o estrago, escalando o vice-governador para cuidar dos projetos de parcerias público-privadas em Londres, na semana que vem. Mas esse afago não cola mais. Afif, que passou por Brasília por esses dias, sente-se honrado e empolgado com a perspectiva de contribuir com o governo Dilma.
Com essas duas premissas claras no horizonte do partido de Gilberto Kassab, vem ainda uma terceira réstia sobre o futuro diante dessa prova de amor a Dilma. No momento, se Eduardo Campos quiser concorrer à Presidência da República no ano que vem, não contará com o PSD. Para desgosto do governador, os kassabistas têm hoje a sensação de que o centro político continuará no Sudeste pelos próximos anos, seja com um presidente saindo de São Paulo, de Minas Gerais ou do Rio de Janeiro. Portanto, Eduardo, vindo do Nordeste, teria poucas chances de chegar ao Planalto. E Afif no ministério de Dilma segura ainda uma parte importante do empresariado, que poderia migrar para outra candidatura.
Enquanto isso, no PT…
A nomeação de Afif, entretanto, é vista com um certo receio pelos petistas de São Paulo. Eles consideram que Afif, se ministro, se transformará num perigo para o projeto do PT de conquistar o governo de São Paulo logo ali na frente. Bem, a política é feita de apostas e, às vezes, muitas delas são feitas no escuro mesmo. É aí que entra a danada da sorte associada à habilidade. Até aqui, os petistas tiveram sucesso com esses ingredientes, com a vitória de Fernando Haddad para prefeito de São Paulo. Fazer de Afif ministro, como já dissemos aqui, ajuda no sentido de tirar um talento da equipe de Alckmin. Se vai somar no futuro no plano estadual com o PT é outra história. O PSD e a parte do PT aliada a Dilma considera que vale arriscar.
Em caso de mudança…
Se o PT se divide em relação a Afif, o PSD se dividirá muito mais em caso de o Partido dos Trabalhadores mudar de candidato em 2014, isso é, tirar de Dilma o direito de disputar a reeleição para abrir espaço à volta de Lula. Os “gaviões”, nesse caso, não serão fiéis. Não foram poucas as vezes em que a senadora Kátia Abreu, por exemplo, declarou entre amigos que com Dilma é possível, mas com Lula não dá. O PSD repete com os petistas o mesmo que o PFL fez com os tucanos. O acordo sempre foi com Fernando Henrique Cardoso, e não com o PSDB. Agora, o acerto é com Dilma, e não com o PT. Jorge Bornhausen repetia esse lema sempre que havia algum problema entre os dois partidos. Coincidentemente, ele é hoje um dos mentores do PSD. Ainda que venham as provas de amor, os petistas, de um modo geral, sabem que, em matéria de poder, todo o cuidado é pouco.
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