quarta-feira, janeiro 09, 2013

Penumbras na Venezuela - EDITORIAL ZERO HORA

ZERO HORA - 09/01


A desinformação sobre Hugo Chávez e as manobras para a perpetuação governista reafirmam a lamentável situação de um país que não consegue viver plenamente a democracia.



Na véspera da posse do presidente reeleito que luta pela vida num leito de hospital, a Venezuela vive, simbólica e politicamente, o mesmo quadro de insuficiência respiratória de seu polêmico líder e deixa o continente também com a respiração suspensa em relação à preservação da ordem democrática. Enquanto Hugo Chávez enfrenta a batalha contra o câncer em Cuba, situação e oposição divergem nas interpretações da carta constitucional, e a população do país se angustia com a falta de informações. Há uma evidente ausência de transparência, o que não surpreende no caso da Venezuela, cujo poder é exercido por uma forma de aberração política já definida como uma democracia deformada por um populismo centralizador e autoritário.
A doença de Chávez e suas implicações são uma sequência de omissões e de ocultação de informações, coerentes com as práticas da autoproclamada revolução bolivariana. O que se assiste, desde muito antes da atual internação, não é, decididamente, um exemplo a ser imitado de abordagem de uma grave questão pública. As circunstâncias enfrentadas pelo presidente são do interesse dos cidadãos venezuelanos e dos países com os quais a Venezuela mantém relações. Mas pouco se sabe sobre a real situação de Chávez, que começou a sonegar informações sobre seu estado de saúde antes mesmo de ser reeleito, em outubro último.
É improvável que, após longo tratamento contra a doença e depois de se submeter a três cirurgias, o presidente tenha sido surpreendido pela recidiva. São muitos os indícios de que Chávez não informou tudo o que deveria quando identificou o câncer em seu início e, no ano passado, quando pode ter sonegado dos seus cidadãos a informação de que voltara a adoecer. Situações semelhantes, que envolvem ocupantes de cargos públicos, em especial os presidentes, devem ser compartilhadas com o país, pois são decisivas para a manutenção das atividades de governo e para a normalidade das instituições.
Esta é uma questão elementar das democracias. A Venezuela, no entanto, não convive plenamente com práticas democráticas, ou as informações sobre a saúde do presidente seriam menos nebulosas. A falta de transparência reforça o hábito bolivariano de conspirar contra tudo que diga respeito à produção e à divulgação de conteúdos esclarecedores e que já provocou inúmeras ações hostis contra empresas de comunicação. Em meio a tanta obscuridade, prospera ainda a controvérsia em torno das interpretações que situacionistas e oposicionistas fazem da Constituição.
Há uma óbvia manobra governista no sentido de evitar, caso o presidente não consiga retomar o governo pela quarta vez, que os chavistas, sem seu líder, sejam testados nas urnas em nova eleição. A Constituição é clara ao determinar que, no caso de incapacitação permanente, um novo pleito deve ser convocado. Os venezuelanos têm o direito de decidir, se confirmada a ausência do presidente eleito, se querem continuar sob o poder absoluto do chavismo ou finalmente buscar novos rumos para o país.

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