sexta-feira, janeiro 18, 2013

Nada a perder - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 18/01


Foi-se o tempo em que os latino-americanos dedicavam tempo e dinheiro para a reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Desta vez, apenas Guatemala, Panamá e Costa Rica vão comparecer com seus chefes de Estado. Os demais têm outros afazeres em suas respectivas agendas de trabalho. Dilma Rousseff, por exemplo, ganha muito mais ficando por aqui, no tête-à-tête com empresários e banqueiros, do que se hospedando num lugar gelado para discutir as saídas da crise europeia.

Esta é a terceira vez que a presidente brasileira recusa um convite para o Fórum Econômico Mundial — que, sinceramente, é cada vez menos “mundial”, uma vez que a Ásia tem seu próprio evento, o Boao Fórum, no sul da China, e as ausências em Davos são cada vez maiores.

Em seu primeiro ano de governo, 2011, Dilma frustrou as expectativas entre o empresariado ao recusar o convite. Todos esperavam que ela aproveitaria o evento para expor os rumos e as eventuais mudanças na condução da economia. A presidente, entretanto, preferiu o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. Para a Suíça, enviou um corpo técnico, capitaneado pelo chanceler Antônio Patriota, e pelos presidentes do Banco Central, Alexandre Tombini, e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Luciano Coutinho.

No ano passado, foi a mesma coisa. Dilma ficou por aqui e enviou, além de Patriota, os ministros do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, e do Meio Ambiente, Izabella Texeira. A presença dos dois tinha um motivo estratégico: aproveitar o fórum para chamar a atenção em torno da Rio+20, a Conferência de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, de onde saiu um documento aquém das expectativas dos ambientalistas, mas altamente festejado como o início de uma conversa para o futuro.

A última vez que um presidente brasileiro pisou no fórum de Davos foi em 2007. Lula não compareceu aos demais eventos. Em 2010, estava tudo pronto para o embarque, mas o presidente teve uma indisposição que o obrigou a cancelar a viagem. Naquele ano, Lula receberia o prêmio “estadista global”. Chegou, inclusive, a preparar o discurso, que terminou lido pelo chanceler, à época Celso Amorim, atual ministro da Defesa. No texto lido pelo ministro, Lula frisou várias vezes que “a melhor política de desenvolvimento é o combate à pobreza. Essa também é uma das melhores receitas para a paz. E aprendemos, no ano passado, que é também um poderoso escudo contra crise”.

Davos, realmente, perdeu substância na última década com o fortalecimento do G-20, o grupo das maiores economias do mundo. São nos encontros desse grupo, e não em Davos, que cada país expõe seus projetos. Dilma, por exemplo, com dois anos de governo, está rouca de tanto repetir que aperto demais não levará ao desenvolvimento. Tampouco a emissão de moeda, que incomoda as regiões do mundo que conseguem, a duras penas, obter algum progresso.

Dilma, atualmente, e Lula, há alguns anos, cansaram de repetir que o melhor mecanismo para desenvolvimento é o combate à pobreza. Mas é bem verdade que só é possível o governo ser bem-sucedido no combate à pobreza se houver inflação baixa. Há dois anos, aliás, essa era a grande preocupação dos economistas presentes ao fórum. Desta vez, a discussão será em torno de receitas para salvar a Zona do Euro, e as expectativas de uma solução são consideradas remotas entre diplomatas brasileiros.

Enquanto isso, no Brasil…

A inflação que tanto preocupava os europeus há dois anos, e nem tanto o nível dos reservatórios, parece ser mesmo o grande fantasma econômico deste início do ano. Mais do que o baixo crescimento, é a inflação que faz mais estragos políticos. Basta ver as senhoras e senhorinhas nos supermercados, reclamando dos preços. Para todo lado, é gente falando que a gasolina vai aumentar, que o preço do quilo da batata está nas alturas, e por aí vai. Definitivamente: Dilma fez bem em ficar por aqui e tratar de dedicar este início de ano a arrumar a casa e animar o empresariado. Tudo para ver se o samba de 2013 não começa atravessado.

Por falar em 2013…

Há nove anos, o PT fazia suas festas no Porcão, palco de arrecadação de fundos e até do aniversário de Delúbio Soares. Hoje, opta por uma concorrida galeteria, excelente e com preços mais modestos. É a lei do custo-benefício.

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