CORREIO BRAZILIENSE - 11/12
Interessante observar hoje as reuniões da Comissão Nacional Executiva do PMDB. Nos tempos do governo Fernando Henrique Cardoso, cada encontro desses era um capítulo à parte na guerra interna do partido. Lembro-me dos tempos em que o então presidente Paes de Andrade deixava os aliados de Fernando Henrique inconformados com a tentativa de lançar candidato próprio, pregar voto contra parte das privatizações. Hoje, as reuniões são rápidas para os padrões peemedebistas. Nem parece que se trata do mesmo partido de há 10, 12 anos.
A reunião de ontem é um exemplo desse novo PMDB. Durou uma hora. O líder no Senado, Renan Calheiros, expôs as razões do governo para aprovar a Medida Provisória 579 do jeito que está. Lembrou que a população beneficiada supera os contemplados com o programa Bolsa Família. Ou seja, o PMDB não tem meios de negar apoio ao governo nessa proposta. E esse foi o mote para aprovação unânime.
Nunca é demais lembrar que, há alguns anos, unanimidade e PMDB eram antônimos. Dessa vez, apenas o deputado Eduardo Cunha, do Rio de Janeiro, apresentou algumas divergências pontuais ao projeto, como a queda de arrecadação do ICMS. Mas, ao fim, Eduardo Cunha aparece na nota oficial do partido como relator revisor, recomendando à bancada que aprove a medida provisória na íntegra. Quem te viu, quem te vê, PMDB…
O que mudou no partido nos últimos tempos para atingir tanta unidade interna assim? Os líderes com voz ativa são praticamente os mesmos, com a diferença de que agora estão todos muito pragmáticos. No passado, o PMDB tinha o grupo que sonhava em lançar candidato próprio a presidente da República ou seguir com Lula, enquanto outros peemedebistas estavam no governo Fernando Henrique. Aos poucos, foram se juntando a Lula. Acreditavam que ali viveriam todos felizes para sempre.
Ocorre que a felicidade durou pouco. Terminado o governo Lula, o PT voltou hegemônico ao governo Dilma Rousseff, deixando o grande aliado PMDB praticamente na periferia, sob a justificativa de que o partido já era detentor da Vice-Presidência da República. Na área de energia, o partido vem perdendo espaço ao longo dos dois últimos anos. Da Integração Nacional e da Saúde, pastas consideradas vistosas, saíram logo na largada do governo Dilma.
Desde então, o PMDB não vê a hora de se reposicionar, com um protagonismo maior no governo. Mas essa participação, seja promovendo suas posições em programas governamentais ou com cargos, não aconteceu. Ainda assim, a fidelidade ao governo — salvo em alguns projetos, como o Código Florestal — continua alta. Ou seja, Dilma mantém o PMDB ao lado pela simples perspectiva e expectativa de poder. E não será diferente agora, nessa reta final de 2012. Até porque o PMDB recomenda a aprovação da MP 579 na íntegra para mostrar que é parceiro de Dilma e não criará dificuldades ao projeto que a presidente vende ao país como a melhor forma de reduzir o valor da conta de luz do consumidor — ainda que o PSDB considere haver outros meios para promover essa redução.
Por falar em perspectivas…
O PMDB fará tudo o que estiver ao alcance porque hoje suas duas alas são pragmáticas. Sabem que não têm um nome forte da própria lavra com perspectivas de enfrentar Dilma Rousseff daqui a dois anos. Como estão no governo, nem sequer teriam condições de montar um discurso forte para isso. Ainda que a economia não siga a contento, a oposição a Dilma está ocupada e não seriam seus líderes os maiores representantes para servir de alternativa ao modelo que aí está. Sendo assim, o partido se mostra conformado em fincar bandeira no comando do poder congressual. E, nesse sentido, não há por que votar contra a MP que Dilma mais defende atualmente. Internamente, o PMDB hoje briga para ver quem terá essa interlocução maior com o governo. Mas, no geral, todos hoje são governistas. Se vão continuar assim, o tempo dirá.
Enquanto isso, na sala da Justiça…
Com o placar empatado, o voto do ministro Celso de Mello sobre a inclusão da cassação do mandato na sentença dos parlamentares condenados no processo do mensalão será acompanhado com espírito de final de Copa do Mundo pelos congressistas na quarta-feira. Não por acaso, deverá ser dos mais longos que o decano da Corte já proferiu no julgamento da Ação Penal 470. Vamos aguardar.
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