O GLOBO - 11/12
O esquema de Rose em agências reguladoras, na secretaria de patrimônio e na AGU parecia ter enorme capacidade para vender ‘facilidades’. As apurações não podem parar
Seria desastroso se a rapidez com que a Polícia Federal concluiu o inquérito da Operação Porto Seguro sinalizasse alguma interferência indevida nas investigações, em que se destaca a ex-chefe de gabinete do escritório da Presidência em São Paulo Rosemary Noronha, ligada a Lula.
Embora o superintendente da PF em São Paulo, Roberto Troncon Filho, houvesse previsto que o relatório final seria encaminhado à Justiça entre o final de janeiro e início de fevereiro, ele foi entregue na sexta-feira. Ao comparecer ao Congresso, na semana passada, para dar explicações sobre o caso, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, defendeu a lisura do trabalho da PF, sob sua subordinação.
O ministro e a PF merecem o benefício da dúvida, pois, quanto mais não seja, a outrora todo-poderosa chefe de gabinete do escritório da Presidência em SP terminou indiciada por formação de quadrilha, como deveria ser, além de acusada por corrupção passiva e tráfico de influência.
Importante é que o inquérito pode ser aprofundado pelo Ministério Público. É o que se espera, porque o que até agora foi revelado leva a se supor que o poder de influência de Rosemary Noronha deve ter patrocinado um festival ainda mais amplo de "malfeitos". A foto publicada no fim de semana pela revista "Veja", em que Rose aparece em casa de praia, na Bahia, compartilhando momentos de lazer de José Dirceu e a namorada, Evanise, confirma o franco acesso da ex-chefe de gabinete aos elevados escalões petistas. Aliás, consta que Rose, antes da vitória de Lula em 2002, atuou no PT como secretária de Dirceu. Depois, já em Brasília, passou a trabalhar com o presidente.
Noticia-se que se passa um pente fino em pareceres lavrados pela Advocacia-Geral da União (AGU), onde o esquema patrocinado pelo poder de influência de Rose no Planalto era representado pelo advogado-geral-adjunto José Weber Holanda. O caso do favorecimento, via corrupção, do ex-senador Gilberto Miranda, interessado não apenas em legalizar a posse de uma ilha no litoral paulista mas de usar outra como terminal de contêineres, pode não ser o único.
Não se pode ter dúvidas quanto a isso. O poder de Rose ficou evidente no atropelamento dos ritos no Senado na aprovação de Paulo Vieira para uma diretoria da Agência Nacional de Águas (ANA). Não se tem notícia de alguém rejeitado pela Casa que tivesse a nomeação afinal aprovada, e a toque de caixa.
A colocação de Paulo Vieira na ANA, a do irmão dele, Rubens, na agência de aviação Civil (Anac), a conexão valiosa na AGU, assim como na Secretaria do Patrimônio da União (SPU), onde atuava Evangelina de Almeida Pinho, superintendente em São Paulo, formam uma teia com enorme capacidade de “vender facilidades” a interessados. O MP e as respectivas corregedorias que atuam no esclarecimento do escândalo dentro do governo precisam trabalhar até se ter a certeza de que nada mais há a esclarecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário