FOLHA DE SP - 30/12
RIO DE JANEIRO - Não adianta consultar o dicionário, acho que ninguém sabe o que seja esta palavra que o finado Jânio Quadros ressuscitou em 1961, chamando aquele distante ano de "poltrão".
Não deve ser boa coisa, tanto que o próprio Jânio deu o vexame de sua renúncia e ele próprio tornou-se, para todos os efeitos, um poltrão.
Aprendi com os meus ancestrais, um deles por sinal era também um poltrão, que não se deve cuspir no prato em que comemos o pão de cada dia.
Mas bolas! Se não cuspirmos no prato em que comemos, onde vamos cuspir? Na cara ou no prato dos outros? Ou no próprio prato? Isso seria unir a porcaria à ingratidão e prefiro ser um ingrato limpo a um porco agradecido.
Daí que não chamarei o ano que se finda de poltrão, pelo contrário, acho até que ele colocou algumas coisas no devido lugar, embora não tenha resolvido o nosso problema maior, que é chamar dona Dilma de presidente ou presidenta.
Em compensação, os últimos 365 dias facilitaram a pauta dos jornais, que até então dividiam a cobertura diária em duas editorias: a política e a polícia. O ano provou que as duas áreas podiam ser reunidas numa só.
Por falar naquele distante ano que foi xingado de poltrão, lembro uma crônica do aclamado cronista Rubem Braga: aproveitando a façanha do soviético Yuri Gagarin, o primeiro homem a ir ao espaço, sugeriu que da próxima vez em que o astronauta russo repetisse o brilhante feito, "jogasse um punhado de rosas sobre a Terra".
Além de poltrão, aquele ditoso ano foi lírico, ao menos para o velho Braga.
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