FOLHA DE SP - 06/12
RIO DE JANEIRO - A cena escancarada na foto da "Primeira Página" da Folha de ontem é um triste retrato das polícias brasileiras. Enfileirados, dezenas de policiais militares subiam, presos, o Quartel Central da PM do Rio. Ironicamente, na placa: escada do lazer. A farra tinha acabado para 63 PMs (quatro continuam soltos), acusados de ligação com o tráfico de drogas.
Em 2007, quase o mesmo número de policiais do mesmo 15º Batalhão (Duque de Caxias, Baixada Fluminense) já havia sido investigado e denunciado, mas, por falta de provas, não houve nenhuma condenação.
A operação Purificação teve a participação das Polícias Federal e Militar, Ministério Público Estadual e Secretaria da Segurança. Percebe-se, hoje, uma disposição de combater desvios e crimes de policiais, mas com resultados lentos e tímidos.
Como avalia a socióloga Julita Lemgruber, os atuais mecanismos de controle são ineficazes. Não há autonomia para investigar. As ouvidorias das polícias não avançam e dependem de corregedorias, muitas vezes com postura corporativista.
Pela Constituição de 1988, o Ministério Público tem a função de "exercer o controle externo da atividade policial". Pouco se vê do resultado dessa obrigação constitucional.
Na visão de Lemgruber, o ideal seria que as ouvidorias não fossem subordinadas ao Executivo. O Brasil poderia seguir o exemplo da Irlanda do Norte, onde o organismo de controle da polícia responde ao Legislativo.
Chama a atenção a indiferenciação de comportamento de traficantes e policiais. Escutas apontam que policiais "autorizavam" criminosos a atirar em agentes que não participavam da quadrilha e faziam o que deveriam: reprimir a venda de drogas.
Num grampo, PM diz a traficante que, se o dinheiro não for entregue, "acabou o amor". Um caso daqueles em que, como diria Millôr Fernandes, dinheiro compra "amor" verdadeiro.
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