CORREIO BRAZILIENSE - 06/12
Quem acompanhou ontem a abertura do Encontro Nacional da Indústria saiu impressionado com a determinação da presidente Dilma Rousseff em colocar a redução do custo da energia no portfólio de realizações de seu governo, e também com o discurso montadinho para se algo ficar para trás em termos de realizações. O roteiro está pronto. Ela começou fazendo um balanço do que considera positivo em sua gestão nesses dois anos sob a ótica da economia. Falou da queda dos juros a patamares baixíssimos, se comparados com aqueles praticados no passado recente, da diversificação do crédito, que, pelo calendário de Dilma, produzirá efeitos daqui a alguns meses. Ela não disse, mas, para os políticos, está claro que o efeito virá justamente no momento em que os partidos começarem a se movimentar com mais afinco rumo ao ano eleitoral.
Para quem não teve a oportunidade de conhecer o discurso, vale guardá-lo, porque o desenho do que vem por aí e das ações do governo estão todas mencionadas ali. Para quem ainda não leu, vai aqui um breve resumo. Dilma fez questão de se referir à mudança nas regras de remuneração da poupança, de mencionar a redução da dívida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), da redução do custo de capital e do esforço que o governo faz hoje para remover os gargalos na infraestrutura. Falou dos leilões de petróleo que pretende fazer em março e em novembro de 2013, tanto no pré quanto no pós-sal. Conclamou a indústria a manter a parceria com seu governo e se referiu à desoneração da folha de pagamentos como uma decisão política para a competitividade.
Na verdade, todas as ações passadas e presentes a que a presidente se referiu — ela mencionou ainda a nova regulamentação do setor portuário a ser anunciada hoje e a dos aeroportos, que virá até o fim do mês — foram apenas um preâmbulo para apresentar o nó que ela dará na cabeça do eleitor. Já é fato que, depois da recusa da Cemig e da Cesp em renovar as concessões dentro das regras propostas pelo governo, a redução das tarifas dificilmente chegará aos 20,2% na conta do consumidor final. Mas Dilma anunciou que pretende manter a redução do valor da conta de luz nesse patamar e foi franca ao afirmar que isso vai onerar o Tesouro Nacional. Aqui vão as palavras dela aos empresários: “Quando perguntarem para onde vão os recursos do governo, orçamentários do governo, uma parte irá para suprir a indústria brasileira e a população brasileira, aquilo que outros não tiveram a sensibilidade de fazer. Nós somos a favor da redução dos custos de energia no país e faremos isso porque é importante para o país”.
Para quem acompanha há anos o traçado da política, o discurso de 2014 se resume a esse período enunciado ontem no discurso presidencial. Certamente, ela construiu a frase dentro das melhores das intenções de curto e médio prazo, mas a leitura dos políticos foi muito além da simples aplicação de recursos para a redução das tarifas. Eles saíram com a sensação de que a recusa das empresas, justamente aqueles dos estados governados pelo PSDB, deu à presidente da República a senha que faltava, caso ela não consiga, por ventura, entregar todas as obras antes de se apresentar oficialmente como candidata à reeleição.
Para muitos, ficou claro que Dilma vai dizer que não entregou 6 mil creches, não terminou a transposição do São Francisco, não concluiu as obras das rodovias, dos portos, dos presídios e, ainda, do Minha Casa, Minha Vida, porque uma parte dos recursos foi — e aí repetem a frase — “para suprir a indústria brasileira e a população brasileira, aquilo que outros não tiveram a sensibilidade de fazer. Faremos porque é importante para o Brasil”.
Resta saber se a população aceitará essa versão de bom grado. Até o momento, nada indica que o eleitorado discordará dessa afirmação da presidente. O cenário está armado para que seja aceita. Não por acaso, o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, Paulo Skaf, do PMDB, está dia e noite na TV dizendo que o governo fez a sua parte para reduzir a conta de luz e alguns poucos não querem diminuir a margem de lucro para atender o consumidor. E, além do mais, as explicações das empresas para não acolher a proposta do governo são consideradas técnicas demais para o entendimento do cidadão comum. Logo, a possibilidade de Dilma levar vantagem nesse discurso é alta.
Enquanto isso, no parlamento…
A deputada Rose de Freitas (ES) bagunça o coreto de Henrique Eduardo Alves (RN) como candidato único do PMDB a presidente da Câmara. “Aceitei a proposta de mais de uma dezena de deputados que queriam uma alternativa na Casa que não sufocasse as pessoas e não descaracterizasse os parlamentares nem privilegiasse um pequeno grupo. Uma candidatura natural não pode ser fechada na cúpula”, diz ela. Em tempo: Henrique fechou ontem o apoio dos tucanos e do DEM. Em breve, quem deve entrar em campo para tentar evitar a candidatura de Rose é o vice-presidente Michel Temer. Aliás, ele ontem conseguiu, por enquanto, conter um movimento do PMDB de Minas Gerais rumo à pré-candidatura presidencial de Aécio Neves. Registre-se por enquanto. Essa novela está apenas começando. Assim como Dilma, essa turma está apenas no início da conversa.
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