CORREIO BRAZILIENSE - 26/12
Analistas das mais variadas matizes passaram 2012 dizendo que o principal desafio de Dilma Rousseff para 2013 era a economia. Nesse campo, ao que tudo indica, ela fez o dever de casa. Em seu pronunciamento de Natal, discorreu sobre todas as medidas adotadas nessa área. Os juros, reforçou, nunca foram tão baixos. Os empregos cresceram, conforme mencionou a presidente coberta de razão. O Brasil que ela pintou tem ainda inflação sob controle, embora este seja um ponto que preocupa os especialistas e os brasileiros de um modo geral, principalmente, aqueles que frequentam os supermercados e vivem estarrecidos com o preço dos alimentos.
Mas, no sentido macro, mesmo os mais estressados, não acreditam que a economia vá desabar ou esteja tão “moribunda” como pintou a revista The Economist, ao pedir a cabeça do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Mas também não está essa maravilha toda que o PT passe 2013 colhendo os louros da vitória. Há um meio-termo aí que põe todos em alerta e é bem possível que fiquemos com o copo pela metade, dando margens à velha teoria do meio cheio, meio vazio.
Feito esse diagnóstico de uma economia bem, mas sem aquele tempero de dar água na boca, há quem diga a presidente terá de se superar na política. As indicações do que vem pela frente, especialmente nos primeiros meses de 2013, não são de dias ensolarados nessa seara. O ano começa com a posse dos prefeitos, evento do qual ela já avisou que não participará. Os novos gestores municipais encontrarão uma situação financeira nada favorável para empreender o que prometeram nas campanhas. Resultado: antes do carnaval, muitos vão desembarcar em Brasília pedindo um auxílio financeiro ao governo federal. Como o Orçamento até agora não saiu, o governo tem a desculpa perfeita para não atender os pedidos dos novos prefeitos no início do ano. Esse será o primeiro caldo de insatisfação.
Passada a largada de janeiro, virá a disputa pela presidência da Câmara e do Senado. E não será surpresa se deputados e senadores desembarcarem por aqui de cabeça quente, por causa da chiadeira dos prefeitos. Entre os senadores, como já mencionamos aqui, parece tudo mais tranquilo, mas entre os deputados o bicho vai pegar com o maior aliado do governo, o PMDB, vivendo uma disputa interna que não se vê desde 2005, quando as duas alas do partido se uniram em apoio ao governo.
Ao que tudo indica, os espaços congressuais de poder estão pequenos para atender a todos. A guerra está tão grande que até o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, já foi acionado para dar uma ajuda nas conversas do partido, no sentido de não deixar que a disputa afete as prioridades do governo na Casa.
Para engrossar esse caldo tem o PSB, um aliado que Dilma precisa cortejar durante todo o ano de 2013 para não dar margens a um afastamento em 2014. Para um recém-chegado à fotografia dos pré-candidatos a presidente da República, os 4% que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, obteve na última pesquisa do Datafolha foram comemorados com ares de vitória. Afinal, ele não é muito conhecido fora de seu estado. Pode até não ser candidato e apoiar Dilma, como disse em sua mais recente entrevista, publicada pela revista Época. Mas ele deixa bem claro que Dilma precisa ganhar 2013 para ganhar 2014. Para bons entendedores, a porta de saída ficou entreaberta e palavras ditas no cenário de hoje não podem ser levadas ao pé da letra porque o cenário pode mudar. Para que não se altere, Dilma terá de ganhar não só na economia, mas também politicamente em 2013, de forma a não dar motivos para um afastamento de aliados.
E, para deixar o caldo grosso mesmo, não dá para esquecer do PT. Não é preciso ser vidente ou ter uma bola de cristal para afirmar que o partido entra em 2013 com seu maior grupamento, o Construindo um novo Brasil (CNB), bastante estressado. E não sem motivos. Não é todos os dias que uma legenda passa pelo desgosto de ver um de seus maiores líderes, no caso o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, prestes a enfrentar a cadeia. Isso sem contar as tentativas de envolver o ex-presidente Lula nesse enredo.
Se continuar nessa batida do ministro da Secretaria-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, pedindo aos petistas para irem às ruas defenderem Lula, os riscos de ligar ainda mais o PT a escândalos de corrupção aumentam. Daí, caberá a presidente se desdobrar em conversas políticas para compensar uma economia apenas razoável com um boa condução na política, coisa que ela não tem muita paciência para fazer. E, é bom que se diga, nessa seara os adversários externos, em especial o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e os internos, leia-se Eduardo Campos, são pra lá de talentosos.
Por falar em economia…
A notícia do salário mínimo de R$ 678 foi uma forma de Dilma passar o Natal dando ares de felicidade à população, mas não dá para esquecer o efeitos inflacionários que essa medida pode trazer. Para 2013, estão certos aqueles que vislumbram um ano apenas razoável em termos econômicos e preconizam que todo o cuidado é pouco. Vamos acompanhar.
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