FOLHA DE SP - 22/11
SÃO PAULO - José Dirceu passou o feriadão na Bahia, onde, num dia, curtiu o sol e a praia com uma belíssima bermuda estampada e, no outro, foi homenageado por companheiros petistas com uma paella e uma saborosa costela de bode.
Em seu merecido descanso, teve tempo de sobra para refletir sobre o julgamento do mensalão e a argumentação do ministro Toffoli contra o emprego de pena de prisão para crimes contra o patrimônio público. Segundo Toffoli, que, por mera coincidência, foi assessor de Dirceu, multas e a recuperação de valores desviados surtem mais efeito "pedagógico" do que prender o responsável.
De fato, é um absurdo obrigar uma pessoa como Dirceu, que "dedicou sua vida ao Brasil e à luta pela democracia", como ele mesmo se descreve, a trocar os prazeres da Bahia pelo sol quadrado de uma penitenciária.
Afinal, coitado, ele não é o primeiro político a desviar recursos públicos e a comprar apoio parlamentar. E, definitivamente, mandar político para a cadeia não faz parte da tradição brasileira. Uma multinha seria mais do que suficiente para servir de exemplo aos demais, não seria?
Até porque não existem tantas provas contra Dirceu. É só uma grande coincidência, por exemplo, ele ter se reunido com Valério e dirigentes do BMG num dia e o banco ter liberado recursos para o mensalão dias depois. Também é só uma casualidade o fato de sua ex-mulher ter recebido favores do operador do esquema.
O problema é que o julgamento, em um tribunal formado em sua maioria por ministros indicados por Lula e Dilma, foi "político", como diz o PT, e permeado pela "paixão", como insinuou a presidente. Convenhamos, os ministros tinham motivos de sobra para castigar o PT, que lhes impingiu um emprego estafante, atulhado de processos e com sessões sonolentas. E o pior, como reclamou Ayres Britto na sua despedida do STF, com salários defasados. Vingança pura, claro. Pensando bem, Dirceu merece ganhar uma estátua.
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