O GLOBO - 22/11
COM ALVARO GRIBEL E VALÉRIA MANIERO
Mesmo com todos os estímulos, o Brasil crescerá pouco este ano. É isso que mais chama atenção na nossa economia. O Banco Central reduziu os juros em 5,25 pontos desde setembro do ano passado. O governo anunciou esta semana que não cumprirá a meta de superávit primário, e a tradução disso é que, ao invés de economizar para pagar dívidas, o Tesouro gastará mais.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, deve estar preocupado. Suas últimas previsões de crescimento passaram longe do alvo. No final de 2010, disse que o país, em 2011, cresceria 5%. Deu 2,7%. No fim daquele ano, afirmou que o crescimento de 2012 seria entre 4% e 5%. Não passará de 2%. Desta vez, Mantega diz que 2013 será acima de 4%, podendo chegar a 5%.
O problema de não ajustar a mira é que o Orçamento vira uma peça de ficção. As receitas do governo este ano estão menores do que o projetado. Mas os gastos foram feitos contando com o dinheiro que não entrou. Enquanto a receita real do Governo Central (Tesouro, Previdência e Banco Central), descontada a inflação, subiu 1,5% de janeiro a setembro, os gastos reais foram 6,2% maiores.
As contas, então, vão para o vermelho. O déficit nominal no ano, até setembro, é de 2,6%, o que significa R$ 85 bilhões no negativo. De janeiro a setembro, a dívida bruta do Governo Central subiu 4,3 pontos. Chegou a 58,5% do PIB. O superávit primário, que desconta gastos com juros, ficou menor.
A lista de desonerações para aquecer a economia é enorme: houve redução de imposto para compra de carro, de eletrodomésticos, móveis, materiais de construção, equipamentos industriais, para empresas exportadoras, mudança na forma de tributação da folha de pagamento. Não adiantou.
Além disso, várias empresas públicas receberam injeção de recursos. Há poucas semanas, bateu nas estatísticas a capitalização da Caixa e do Banco do Brasil. O BNDES recebeu mais R$ 20 bi. Tudo isso é feito em forma de dívida, porque o Tesouro precisa emitir títulos públicos. Pior, há um gasto implícito não contabilizado no Orçamento porque os juros são subsidiados a essas empresas.
O medo de que o PIB fique ainda mais fraco explica os estímulos do Banco Central e da Fazenda, mesmo que isso signifique inflação acima do centro da meta, crescimento excessivo do crédito e aumento do endividamento público.
Mais vagas no varejo
Levantamento feito pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), antecipado com exclusividade para a coluna, mostra que 28% dos varejistas consultados devem fazer contratações temporárias para o Natal. A taxa pode parecer baixa, mas reflete um dado positivo: o comércio já contratou muita gente com carteira assinada e, por isso, 78% das empresas estão satisfeitas com a própria equipe. A expectativa da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) é de que cerca de 300 mil pessoas sejam contratadas neste fim de ano e 200 mil acabem efetivadas. A busca maior é por pessoas entre 18 e 34 anos. Outra boa notícia: a maioria dos varejistas acredita que as vendas de fim de ano em 2012 serão melhores do que as de 2011. O SPC falou com 609 empresas de todas as capitais do país.
Pressão sobre a Eletrobras continua
Ontem, as ações da Eletrobras caíram mais 20%. No ano, a queda chega a 68%, com uma redução de valor de mercado de R$ 26 bi para R$ 9,4 bi. Com a fuga de capital privado da empresa, aumenta a necessidade de aportes do Tesouro na companhia. O economista Álvaro Bandeira, da Órama Investimentos, diz que a visão do investidor estrangeiro tem ficado mais turva em relação ao Brasil. "O risco é regulatório. As mudanças de regras e as pressões sobre vários setores foram muito fortes. Aconteceu com petróleo, setor automobilístico, bancário, e agora, na área da energia. Mineração já esteve em foco na questão dos royalties e, depois, saiu", explicou.
ALVARO GRIBEL E VALÉRIA MANIERO
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