O GLOBO - 16/11
Foram 25 os condenados. Escapou alguém? Com certeza: sempre acontece
A última segunda-feira bem que merece não ser esquecida na nossa história política. Por falta de memória, arquivo — e também por preguiça de pesquisar —, não posso garantir, mas aposto que nunca antes, em qualquer país do continente, o mais alto tribunal mandou para a cadeia, sem falar em multas de mais de um milhão de reais, um grupo tão numeroso de cidadãos que, alguns anos atrás, mandaram e principalmente desmandaram.
Foram 25 os condenados. Escapou alguém? Com certeza: sempre acontece. Mas deu para lavar a alma da plateia nacional, tão acostumada, coitada, a testemunhar a impunidade dos poderosos. Principalmente quando eles, ou aliados seus, estão no poder.
E é bom lembrar que o trabalho do Supremo Tribunal Federal (que nunca me pareceu tão supremo quanto agora) ainda não acabou: foi julgado o chamado núcleo político dos réus, e ficou faltando o núcleo financeiro. A simples existência desses dois grupos dá bem ideia de quanto era vasta e complexa a mutreta. Será mais difícil punir a turma do dinheiro? Ela terá mais experiência em não deixar rastros de suas negras façanhas? Vamos ver — e confiar em nossos supremos defensores.
Note-se, a propósito, que eles têm suas queixas. Esta semana mesmo, o presidente do STF, ministro Ayres Britto chegou às lágrimas, ao se despedir da presidência do Conselho Nacional de Justiça. Afirmou que o Poder Judiciário é o mais exigido e o menos perdoado — além de ser mal remunerado, não dispor de cargos de confiança, não poder fazer greve nem formar sindicatos. Em suma, seria o irmão pobre e sofredor do Executivo e do Legislativo.
Suas queixas com certeza espantaram a turma da arquibancada — mas resta saber se os irmãos ricos dos outros poderes vão tomar alguma providência a respeito. O momento não é dos melhores para que isso aconteça: o julgamento do mensalão certamente deixou de cabeça inchada muita gente da área política. A qual costuma não esquecer quando alguém balança o seu barco.
Mesmo quando a opinião pública aplaude entusiasticamente — podemos ter certeza disso — decisões da turma da toga.
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