CORREIO BRAZILIENSE - 12/10
Enquanto a antiga cúpula petista arde na fogueira do julgamento da Ação Penal 470, a eleição de São Paulo vira, a cada dia, a ressurreição para tudo e para todos. De domingo para cá, a cidade passou a ocupar casas importantes do tabuleiro eleitoral, lugar que parecia haver perdido. Vejamos primeiramente o PT, o mais óbvio. Desde que o ex-ministro José Dirceu deu à eleição o caráter de porta de saída para o baixo astral do mensalão, ganhou asas o discurso interno de que, se Fernando Haddad for eleito, será sinal de que o eleitor perdoou o mensalão. Um grupo do PT não gostou. Talvez não por acaso, muitas avenidas na cidade ontem apresentavam mais cartazes de Haddad com Dilma Rousseff do que com Lula, que administrava o país no período em que o escândalo eclodiu.
A cara feia de um certo grupo, entretanto, é só pro forma. O PT trabalhará dia e noite para que uma vitória de Haddad consiga varrer os resquícios do julgamento dos ombros do partido e dê cara nova à legenda.
Nos demais partidos, entretanto, mesmo entre aliados de Haddad, há o receio de que a vitória traga ao PT poder demais. O partido já tem a Presidência da República extremamente bem avaliada, tem Lula e, para completar, cresceu nesta eleição. Se ganhar em São Paulo, a avaliação geral é a de que ninguém segura mais o partido de Lula e todos os demais serão coadjuvantes.
Para o PSB, por exemplo, que apoia Haddad, uma vitória de Serra é considerada mais interessante por vários aspectos. Primeiro, fortalece o atual prefeito da cidade, Gilberto Kassab, do PSD, aliado preferencial de Eduardo Campos no futuro.
As faces da sucessão
Da mesma forma que a eleição de Haddad representa uma espécie de redenção para o PT e a virada da página do mensalão dando a volta por cima, a eleição de Serra representa para Kassab a redenção dos baixos índices de popularidade que ele enfrenta na cidade.
Kassab está decidido a não ocupar um ministério no governo Dilma Rousseff, mas não impedirá que a presidente busque alguém nas suas fileiras. Não descarta apoiar Dilma — tem dito, inclusive, que essa é a tendência hoje. Mas, no papel de comandante do PSD, prefere ficar longe de cargos para, se for o caso, seguir caminhos alternativos em 2014.
Outro personagem de 2014 que assiste ao jogo paulistano de olho no futuro é o senador Aécio Neves (PSDB-MG), e seus aliados não deixam de ter lá suas preocupações com qualquer que seja o resultado. Ao fazer a conta na ponta do lápis, Aécio sabe que precisa da vitória de Serra, mas ainda assim não tem a garantia de que o tucano lhe estenderá o tapete vermelho na cidade daqui a dois anos. Isso porque se Kassab estiver em outro palanque com posição de destaque — e hoje nada indica que Kassab apoiará Aécio —, não estará descartada uma relativa neutralidade de Serra na eleição presidencial.
Obviamente, ninguém abrirá todas essas cartas antes do tempo. Agora, logo depois da eleição, virá a eleição da Presidência da Câmara, na qual Júlio Delgado (PSB-MG) já está liberado para fazer campanha. Mas os planos de apoio do PSD não estão tão garantidos quanto pensa o deputado mineiro. Afinal, Kassab está na oposição ao PT em São Paulo, mas não pretende seguir esse movimento na Câmara. A orientação da bancada deve ser de apoio a Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Sinal de que não será este ano que veremos o jogo aberto. Só sabemos que a bola hoje está com São Paulo. É de lá que os atores do momento estão fazendo suas apostas.
Enquanto isso, no STF…
O dia não foi considerado dos piores para o partido, uma vez que a véspera do feriado trouxe algumas absolvições. A ordem agora é aguardar a chamada dosimetria da pena. A parte mais dolorosa está por vir.
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