sexta-feira, outubro 12, 2012

Fim de ciclo - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 12/10



Além do anúncio do fim do ciclo de corte dos juros, as decisões tomadas na quarta-feira pelo Comitê de Política Monetária (Copom) dão um punhado de indicações para o que pretende o Banco Central nos próximos meses.

A primeira é que já não há mais determinação para perseguir o centro da meta de inflação, de 4,5% ao ano. Até agora, por dispositivo legal, o Banco Central estava comprometido a entregar a meta cheia dentro do ano-calendário (até 31 de dezembro de cada ano).

Desde 2011, o Banco Central, sob a direção do economista Alexandre Tombini, passou a operar com prazos mais elásticos, mais ou menos como o Banco da Inglaterra, que trata de obter a convergência, mas, não necessariamente, dentro de um prazo rígido. No Brasil, a convergência será buscada, sim, mas fica para quando der, ou, na expressão do Banco Central, "ainda que de forma não linear". Espera-se, no entanto, que chegue ainda em 2013. A conferir.

Tanto o sistema de metas da Inglaterra como o do Brasil preveem o mecanismo de molejo na administração do plano de metas porque sempre há os imprevistos e os imponderáveis. O do Brasil tem a tal área de tolerância de inflação, que são os 2 pontos porcentuais ao ano, para cima ou para baixo da meta. O da Inglaterra não precisa dessa área de escape porque não está comprometido a entregar a inflação no ano-calendário. Hoje, o Banco Central do Brasil trabalha com uma superflexibilidade. Está usando a margem de tolerância na meta e ainda se dá a liberdade de não ter prazo rígido para cumpri-la.

A outra decisão do Banco Central foi dar mais horizonte para os juros. No comunicado oficial divulgado logo após a reunião do Copom, ficou dito que se espera agora estabilidade na oferta de moeda na economia "por um tempo suficientemente prolongado". Não é indicação tão clara como a do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que avisou que os juros ficarão onde estão (perto do zero por cento ao ano) até ao menos meados de 2015. Mas é um jeito de dizer que os juros básicos (Selic) ficarão onde estão, nos 7,25% ao ano, enquanto as condições da inflação ou da atividade econômica o permitirem.

Pode-se dizer que o Banco Central está agindo com roupa folgada demais. Não é somente a necessidade de mais conforto operacional, digamos assim. É consequência dos riscos envolvidos. A queda dos juros básicos, em nada menos que 5,25 pontos porcentuais ao ano em apenas 14 meses, numa conjuntura em que o consumo se expande a cerca de 5% ao ano em termos reais e o mercado de trabalho está sob pressão, é uma caminhonete excessivamente carregada, a mais de 120 por hora, em estrada esburacada e cheia de curvas. Ou seja, agora, o sistema opera próximo do limite. Qualquer imprevisto pode produzir uma derrapada.

Vale insistir em mais duas observações.

Primeira: essa mistura de políticas (em que prevalece a busca imediata de avanço do PIB e não só a meta de inflação) não é apenas do Banco Central. E não foi pensada estrategicamente como melhor resposta para a crise. Foi acontecendo. Mas é a política adotada pelo governo Dilma, em que o Banco Central é ator coadjuvante.

Segundo ponto importante: diante da conjuntura de crise, essa mistura de políticas pode ter sido a mais correta, apesar dos riscos envolvidos. O principal efeito é que toda a economia funciona com mais incertezas e isso pode prejudicar o investimento privado.

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