FOLHA DE SP - 22/10
Investimento externo sofre contração, ainda que se observe mudança favorável no perfil, com retração do capital mais especulativo
Seja em razão da conjuntura internacional desfavorável, seja por algum desencanto com políticas e resultados obtidos até aqui pelo governo Dilma Rousseff, o investimento estrangeiro no Brasil mostra queda acentuada neste ano.
O capital externo direcionado a ações de empresas e títulos de renda fixa ficou em US$ 13 bilhões no período de 12 meses encerrado em agosto. Em 2010, esse volume havia alcançado US$ 68 bilhões.
Especialistas de bancos e administradores de fundos de investimento atribuem a queda aos magros números do PIB e ao recrudescimento de medidas intervencionistas na política econômica da presidente Dilma Rousseff.
Segundo esse raciocínio, o Executivo ampliou a ingerência em grandes empresas de capital aberto, como a Petrobras e a Vale, cuja administração se contaminou mais com interesses políticos -embora, de início, o mercado tenha comemorado o maior "entrosamento" da nova diretoria com o Planalto.
Desencadearam-se, ainda, ofensivas de apelo popular contra juros bancários, tarifas de energia elétrica e vendas de planos de telefonia celular. Sem dúvida havia abusos a combater, mas se criou uma atmosfera interpretada como hostil à rentabilidade dos negócios.
A argumentação tem alguma pertinência, ainda que seja difícil aquilatar com precisão o peso do dirigismo oficial no rareamento dos dólares. Felizmente para o país, a diminuição de investimentos externos não é generalizada.
Quando se consideram os recursos injetados diretamente no setor produtivo por multinacionais, constatam-se US$ 66 bilhões acumulados nos últimos 12 meses. Trata-se de aumento significativo sobre os US$ 48 bilhões de 2010.
Ao contrário do que se projetava no início do ano, essa fonte de divisas será mais do que suficiente para cobrir o deficit nas transações comerciais e de serviços com o exterior, hoje em torno dos US$ 50 bilhões anuais.
A desaceleração da atividade acabou contribuindo para evitar um aumento desse deficit. As remessas de lucros e dividendos para matrizes, por exemplo, deverão cair de US$ 38 bilhões, em 2011, para US$ 24 bilhões.
Tudo somado e subtraído, o Brasil obtém financiamento mais seguro, na forma de investimentos diretos. A retração do capital especulativo, direcionado a títulos e ações, evita uma pressão adicional pela valorização da moeda nacional, prejudicial às exportações.
A longo prazo, no entanto, continua necessário elevar a poupança nacional, para que a ampliação da infraestrutura e a aquisição de equipamentos não dependa tanto da entrada de dólares.
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