CORREIO BRAZILIENSE - 22/10
Aos políticos interessados em se manter ou conquistar poder em médio prazo, leia-se 2014, recomenda-se cruzar os dados das eleições municipais que terminam no próximo domingo com os estudos sobre a classe média brasileira. Isso porque a nova classe C passou a englobar mais da metade dos brasileiros pela primeira vez em 2011, ou seja, a força eleitoral dessa massa está em curso de forma inédita neste pleito.
Os dados sobre a nova classe média podem ser encontrados no site da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), que, no ano passado, fez um seminário a respeito em Brasília. Aí, instituições oficiais, sociólogos, economistas, educadores e toda uma gama de profissionais e associações de classe apresentaram seus estudos e estatísticas.
Mostrou-se, por exemplo, que, em 1992, quando Itamar Franco assumiu o poder e lançou o Plano Real, a classe C correspondia a 34,96% da população. Hoje, são 52%, dominante do ponto de vista eleitoral e econômico. Os eleitores com nível universitário nesse segmento saltaram de 6 milhões para 9 milhões. Em 2014, serão 11 milhões.
Qualquer político, para se inserir no futuro próximo, terá que entender o que se passa com essas pessoas. Os estudos sobre esse segmento indicam que o “esperto”, que só quer “se dar bem” desprezando valores, sem dúvida ficará para trás. Na classe C, em que 68% dos jovens estudaram mais que seus pais, o valor básico é a importância do trabalho duro e continuado. Mais educados e conectados, esses jovens são inclusive os formadores de opinião em suas famílias, onde 79% confiam mais nas recomendações de seus parentes do que na propaganda da tevê. Ou seja, o perfil do brasileiro de um modo geral mudou e, com ele, a forma de conquistá-lo do ponto de vista eleitoral.
Lula e FHC
Nos últimos anos, duas referências na política brasileira perceberam essa guinada. Não por acaso, o ex-presidente Lula buscou para candidato a prefeito de São Paulo um nome novo dentro do PT, o do ex-ministro da Educação Fernando Haddad, com um perfil que se encaixa perfeitamente nos valores ressaltados pela nova classe média. O outro atento a essa mudança foi Fernando Henrique Cardoso. Há mais de um ano, alertou seu partido para a necessidade de prestar atenção na classe C e seu poder eleitoral.
A sucessora de Lula, a presidente Dilma Rousseff, entendeu esse recado. Em todas as oportunidades, fala da classe média. Nos palanques no último fim de semana, não foi diferente, embora o destaque tenha ficado para os ataques que fez ao PSDB de José Serra.
Dilma tem dito a seus ministros que o objetivo do governo é a classe média. Não por acaso, determinou atenção especial aos planos de Saúde, que viraram febre de consumo na classe C. Mas esse novo segmento social quer mais. Na área de Educação, os gastos com pagamento de escola, material escolar e livros estavam na faixa de R$ 1,8 bilhão em 2002. Hoje, ultrapassam os R$ 15 bilhões, conforme dados disponíveis no site da SAE.
Enquanto isso, no palanque…
Quem observou os palanques do partido em São Paulo no último fim de semana percebeu claramente as mudanças no PT. Na primeira fila, à exceção de Lula — a maior referência do partido—, de sua mulher, dona Marisa, e do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, os demais eram as “novidades”, sejam os próprios candidatos sejam ministros da presidente Dilma Rousseff. Talvez esteja aí o segredo pelo qual o julgamento da Ação Penal 470, vulgo mensalão, entra em seu capítulo final sem afetar a agremiação sob o ponto de vista eleitoral. O PT soube, em meio ao doloroso processo de julgamento, se renovar. Dilma, da sua parte, separou o governo do julgamento. Sendo assim, o eleitor fez o mesmo.
A partir de agora, passada a eleição municipal na semana que vem, será a hora de preparar o próximo jogo. E, nesse campo, quem souber ler e traduzir melhor os desejos da classe C terá a vantagem. Esse é o maior desafio. Podem apostar.
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